O verso amputado
perda e entropia na poética de Sebastião Uchoa Leite
Parole chiave:
Poesia brasileira contemporânea; Sebastião Uchoa Leite; teoria do luto; verso.Abstract
A partir dos anos 1990, a obra poética de Sebastião Uchoa Leite se torna intensamente atravessada pela experiência do corpo doente e da proximidade da morte, enfrentada pelo poeta em seus últimos anos de vida. Esse ponto de inflexão, observado por críticos como João Alexandre Barbosa e Paulo Andrade, é antecedido, porém, por uma poética – já presente na obra de Uchoa Leite desde sua virada antilírica em Antilogia (1972) – que cedia ao verso um modo de existência vampiresco, fantasmático, que Luiz Costa Lima compara à de um membro amputado. O artigo visa, assim, compreender como o poeta agencia essa experiência de perda da poesia diante da experiência de perda do corpo e do mundo, a crescente sensação de entropia de si e do outro: “Perplexos/ Vamos todos desconexos/ nesse roldão universal”. Para tanto, analisa alguns poemas de A uma incógnita (1989-1990) em aproximações críticas que leem o verso vampiresco de Uchoa Leite como possível modalidade de tombeau da poesia moderna e de seu estado constitutivo de crise (Marcos Siscar); e em diálogo com a poesia brasileira ligada à ideia de antropofagia, pensada como uma teoria do luto (Roberto Zular). Então concluí que, mesmo sem estarmos diante de uma obra antropofágica ou que erga um monumento tumular à poesia em seu dizer equívoco de sua perda, tais teorias nos ajudam a entender como o poeta faz dessa perda um espaço de encontro, de partilha e transformação do sentido.
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