Corpos e casas enfermiços
imagens da decadência em Repouso (1949), de Cornélio Penna, e em Crônica da casa assassinada (1959), de Lúcio Cardoso
Palavras-chave:
decadência, romance brasileiro, Cornélio Penna, Lúcio CardosoResumo
Neste artigo, apresenta-se uma análise dos romances brasileiros Repouso (1949), de Cornélio Penna, e Crônica da casa assassinada (1959), de Lúcio Cardoso. Examina-se, por meio de leitura cerrada, como as obras elaboram o tema da decadência de tradicionais famílias mineiras. A ruína de tais famílias é retratada como um processo irreversível, marcado por uma crise financeira e moral, que não contém nenhuma possibilidade de futuro ou de renovação. Em Repouso, a representação da crise se entrelaça de forma decisiva à atividade econômica que enriquecera a família da protagonista Dodôte: a mineração. Já na Crônica, a ideia de decadência não se apresenta em uma relação determinante com a função econômica dos Meneses em Vila Velha, mas com os valores que os integrantes da família defendem e incorporam. Ambos os romances, porém, elaboram imagens similares como símbolos dessa decadência: as moléstias físicas fatais (sífilis e câncer) e uma sensibilidade enfermiça e reprimida que distingue as personagens de Penna e de Cardoso. A leitura dessas obras lado a lado revela uma visão semelhante e crítica a respeito da sociedade patriarcal mineira do início do século XX. A sífilis, em Repouso, e o câncer, na Crônica da casa assassinada, associando-se às coerções sociais e aos valores religiosos distorcidos que levam à sensibilidade adoentada das personagens, tornam-se a imagem da decadência inescapável daquelas famílias. Os romances sugerem, assim, que, por sua natureza destrutiva e violenta, a tradição de tais famílias não pode prosperar, estando fadada à esterilidade e à morte.
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Referências
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