SANT'ANA, Affonso Romano de. Bibliotecas: desnível social e o desafio do Século XXI. Rio de Janeiro: Biblioteca nacional, 1996. 27p.

Resumo

Reconhecido como um dos maiores expoentes da literatura brasileira e, mais recentemente, por sua atuação como diretor da Biblioteca Nacional (RJ), o escritor e humanista Affonso Romano de Sant'Anna dispensa apresentação. Sua incursão na área das bibliotecas levou-o a escrever este livro, onde relata sua experiência administrativa e apresenta, ao final, um prognóstico sobre nossas bibliotecas no próximo século e sobre o papel dos bibliotecários. Na introdução o autor faz breve abordagem histórica, resgatando as origens da Biblioteca Nacional que remontam a 1810, quando D. João VI traz para o Brasil a Biblioteca Real de Lisboa. Porém, a coleção de sessenta mil livros só se tornaria acessível ao público cem anos mais tarde, com a criação da Biblioteca Nacional em 1910. A partir de então, seu acervo cresceu continuamente, contando hoje com oito milhões de exemplares, o que a coloca na posição de oitava Biblioteca Nacional do mundo. Ainda na introdução, encontramos os conceitos teóricos que o autor utiliza em suas reflexões e análises. Partindo da concepção de Biblioteca Nacional como "modelo reduzido" da realidade social e da complexidade ideológica dos países, e tomando-a como microcosmo da cultura, Sant'Anna busca ilustrar os desníveis sociais e as perspectivas para o século XXI. Procurando dar ao leitor uma visão do que é administrar uma Biblioteca Nacional num país como o Brasil, com enormes desigualdades entre as classes sociais, o autor estrutura o texto em cenas independentes que se referem às situações por ele vivenciadas em sua trajetória como diretor da Biblioteca Nacional. Nas quatro primeiras cenas são citados desde fatos do cotidiano, até questões políticas que, na percepção do autor, têm o mesmo grau de importância para dar significado à sua análise. Coloca no mesmo nível a cena da bala perdida que atingiu sua sala na Biblioteca Nacional, a criação do SNBP - Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e do PROLER - Programa Nacional de Incentivo à Leitura. Nas cenas cinco e seis especial atenção é dada ao PROLER, enfatizando a importância das ações do programa voltadas para divulgar, não apenas o livro, mas o ato socialmente interativo da leitura. Com isso, destaca o novo papel assumido pela Biblioteca Nacional, de agente socializadora e propulsora da leitura. Nas últimas duas cenas Sant'Anna procura mostrar a presença cada vez maior da Biblioteca Nacional em eventos internacionais como a Feira de Frankfurt de 1994 e de outros países, onde são divulgadas a cultura e a literatura brasileiras. Também merecem destaque as conexões internacionais entre o livro, a leitura e a biblioteca, propiciadas pelo trabalho da ABINIA - Associação das Bibliotecas Nacionais da América Latina e do CERLALC - Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe, cujos projetos têm obtido resultados práticos. Em seguida, Sant'Anna indaga sobre o destino das bibliotecas no século XXI, dentro de um contexto em que ele considera como fundamentais o vetor tempo e o vetor tecnológico. Chama atenção para os avanços como o livro digital, os processos virtuais, bancos de dados e a INTERNET, já possibilitados pelo computador, mas acredita que a revolução tecnológica será uma revolução de suportes, sendo que do ponto de vista do conteúdo não haverá grande mudança: "o destino final do livro é a leitura que o homem faz dele", afirma (p.26). Finalizando, Sant'Anna assume seu posicionamento político a favor da democratização do acesso à leitura e alerta para o papel a ser desempenhado neste sentido pela Biblioteca Nacional em interação com as bibliotecas públicas e universitárias. Quanto aos bibliotecários, deverão ser uma espécie de "engenheiros da informação", com ampla formação humanística para que possam enfrentar os desafios do novo século. O livro de Sant'Anna, apesar do texto curto e pouco elaborado teoricamente, tem um conteúdo relevante para os profissionais da informação, por analisar o quadro conjuntural onde irão atuar e a evolução das conexões a nível internacional que, especialmente com o MERCOSUL, abre novas possibilidades de intercâmbio às bibliotecas brasileiras.