LEVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996.

Autores

  • Nirlei Maria Oliveira

Resumo

O espaço virtual reinventa uma cultura nômade, dispersa e propõe uma dinâmica através da qual são criadas interações e o compartilhamento de uma realidade. Para Levy, "surgem novos espaços e velocidades, que se metamorfoseiam e se bifurcam a nossos pés, forçando-nos à heterogênese. Assim, tempos e lugares se misturam, não há limites." O espaço virtual descrito por Levy traz à tona um tema atual e instigante; em nove capítulos, o autor aplica uma abordagem filosófica, antropológica e sociopolítica da virtualização. No primeiro capítulo, Levy define o que é o virtual, bem como apresenta conceitos associados ao termo e concepções equivocadas sobre o tema. Assim, o virtual não se opõe ao real, mas lida com um desprendimento do aqui e agora, com o não estar presente. Surgem velocidades qualitativamente novas, tempos mutantes. Nos três capítulos seguintes, Levy trata da virtualização do corpo, do texto e da economia, nos quais os sistemas de realidade virtual transmitem mais que imagens, uma quase presença. "O encontro é quase desnecessário, o corpo sai de si mesmo, adquire novas velocidades, conquista novos espaços." Constitui-se, então, um corpo coletivo, mundializado pelas redes digitais do planeta, abandona-se o chão e seus pontos de apoio, desliza-se nas interfaces, seres anônimos e invisíveis são desterritorializados. A tela do computador é a nova máquina de ler, através da qual são lidas, ouvidas e apreciadas as imagens dos hiperdocumentos, criados em rede e transformados pelos leitores. O texto é instável, em constante mutação, uma janela sempre aberta para novas interpretações; dentro do hipertexto, o leitor escolhe onde navegar, indo além da linearidade dos textos em papel. A economia globaliza-se, os mercados tornam-se virtualizados. "A informação adquire valor de troca e fala-se em infoestrutura, onde a informação é a fonte ou a condição determinante para todas as formas de riqueza. Informação e conhecimento configuram-se com bens econômicos, em um metamercado integrado ao ciberespaço." No quinto e sexto capítulos, o autor analisa a virtualização da linguagem, da técnica e do contrato, nos quais toda construção social do ser humano passa pela virtualização. A linguagem e a emoção são virtualizadas pela narrativa e voam de boca em boca, tendo como chaves para sua virtualização ? gramática, a dialética e a retórica. "Mas em sua fronteira avançada, na interface móvel da criação e do desconhecido, a atividade técnica abre mundos virtuais nos quais se elaboram novos fins." Graças à técnica, a ação é virtualizada pela ferramenta que passa de mão em mão, a informática sendo a mais virtualizante das técnicas. O contrato ou a virtualização da violência, como designa o autor, faz sentido quando contratos e comportamento são estabelecidos independentes das variações emocionais dos envolvidos, isto posto em rituais, religiões, leis, normas que formam relacionamentos virtuais compartilhados no seio de uma sociedade. A virtualização da inteligência é analisada por Levy nos dois capítulos seguintes; para o autor, os seres humanos jamais pensam sozinhos ou sem o auxílio de ferramentas: toda uma sociedade cosmopolita pensa - em rede - dentro de nós, resolvendo problemas em rede. A inteligência coletiva é distribuída por toda parte e sinergizada em tempo real. Assim, o exercício de capacidades cognitivas implica uma parte coletiva ou social; não apenas a linguagem, os artefatos e as instituições que pensam dentro de nós, mas também os desejos, afetividades e valores numa paisagem comum do sentido ou do saber. As significações são partilhadas e a memória coletiva é dinâmica, emergente e cooperativa, isto aplicado em termos de redes de comunicação digitais. No último capítulo e no epílogo, Levy sintetiza e fecha sua obra, convidando o leitor - de maneira tentadora - com a saudação "benvindos aos caminhos do virtual, a nova morada do gênero humano". Convite irrecusável, porque afinal somos seres humanos, daqui e de toda parte, plugados no ciberespaço. Trata-se de uma obra recomendada a profissionais de todas as áreas, pois a realidade virtual, em níveis diferenciados, nos afeta a todos, inexoravelmente; a leitura do livro torna-se imprescindível para quem quiser compreender as habilidades e atitudes necessárias para transitar neste novo espaço.

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Publicado

2007-11-20

Como Citar

Oliveira, N. M. (2007). LEVY, Pierre. O que é o virtual. São Paulo: Ed. 34, 1996. Perspectivas Em Ciência Da Informação, 3(1). Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/23252

Edição

Seção

Resenhas