Pistas para a pauta acentual dos blends
análise acústica da duração
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.33.1.67-92Palabras clave:
pauta acentual, blend, português brasileiro, fonética acústica, duração relativaResumen
Objetiva-se, neste artigo, investigar a pauta acentual dos blends do português brasileiro sob o prisma da Fonética Acústica. Esse processo é um fenômeno morfofonológico complexo que envolve duas bases em sua formação. Sua singularidade está no fato de apresentar supressão de material fônico na mescla das bases envolvidas, como em namorido (namorado + marido), futelama (futebol + lama) e boacumba (boa + macumba). Seguindo a descrição de Gonçalves (2003) e Andrade (2008), o blend apresenta diferentes padrões de formação. Alguns podem exibir semelhança fonológica entre as bases, denominadas interposição lexical. Outros, no entanto, podem não apresentar semelhança entre as bases, caracterizando o padrão como combinação truncada. Além disso, um terceiro grupo de blends pode ser formado a partir de uma palavra invasora que se insere em uma palavra-alvo, denominado como substituição sublexical. Com base nessas classificações, foi levantada a hipótese de que os blends apresentariam pautas acentuais distintas, dependendo do padrão de formação: os padrões de interposição lexical e substituição sublexical tenderiam a apresentar um único acento primário. Já o padrão de combinação truncada apresentaria dois acentos primários. Para tanto, realizou-se um teste experimental para obter a média da duração relativa das sílabas de blends para, em seguida, fazer uma análise multivariada, por meio de conglomerados, para analisar a distância que havia entre sílabas tônicas e átonas dos blends e depois comparar essas sílabas através dos dendrogramas gerados. Os resultados alcançados apontam que os blends do PB possuem uma tendência geral de organização rítmica, no que se refere à duração relativa das sílabas, que independe do seu tamanho, bem como independe do seu padrão de formação.
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