Assessoria Técnica Independente

A luta por direitos das populações atingidas por barragem de mineração

Autores

  • Aline Pacheco Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)
  • Caena Rodrigues Conceição Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)
  • Juliana Camargo de Faria Pirró Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)

DOI:

https://doi.org/10.35699/2316-770X.2020.20672

Palavras-chave:

Atingidos por barragens, Assessoria Técnica Independente, Reparação integral

Resumo

Este artigo visa dar visibilidade a populações atingidas por barragens, suas conquistas e processo de luta constante para a garantia de direitos diante de conflitos socioambientais provocados por empresas de mineração. Assim, esse estudo discute e reflete sobre a importância da Assessoria Técnica Independente (ATI) como ferramenta política para viabilizar o acesso aos direitos e a reparação integral de danos e perdas vividos por atingidos, compreendendo a ATI como uma conquista da luta dessas populações. Para tanto, elenca-se a pesquisa bibliográfica como metodologia, com destaque para documentos e conceitos importantes à consolidação de direitos dos atingidos: justiça ambiental, racismo ambiental, reparação integral e conceito de atingido. Através de levantamento histórico, da constituição do modelo minerário no Brasil aos dias atuais, identificam-se contradições inerentes que resultam nas diversas violações de direitos da população atingida. Por fim, apresenta-se a ATI como instrumento de luta importante das comunidades atingidas para a garantia da reparação integral, elencando algumas experiências exitosas.

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Biografia do Autor

Aline Pacheco, Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)

Psicóloga e mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Especialista em Políticas Públicas de Gênero e Raça pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Vinda do interior de Minas Gerais – Ponte Nova – tornou-se militante e defensora de direitos humanos, fazendo parte integrante do Instituto DH: Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania. Ao longo de sua jornada profissional trabalhou como psicóloga com adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, pessoas em Privação de Liberdade, como professora na Educação Popular e Educação Superior. Atuou também como psicóloga nas Políticas Públicas de Assistência Social e Saúde, no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e atualmente , trabalha como assessora técnica (psicóloga) dos atingidos e atingidas pela Barragem da Samarco em Barra Longa, na luta pelo direito das pessoas atingidas.

Caena Rodrigues Conceição, Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)

Psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia- UFBA e Integrante do Ponto de Cultura Boiada Multicor- UNIRAAM. Atuou como educadora popular pela UNIRAAM durante mais de dez anos com crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de risco que vivem nos centro urbanos de Salvador-Ba. Atuou durante seis meses como educadora popular pelo EdpopSUS-BA com agentes comunitários de saúde. Atuou durante dois anos e meio com comunidades quilombolas de Pernambuco e Bahia através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase na Saúde da População do Campo - UPE. Além de ter sido preceptora durante seis meses da referida residência. Ao longo da sua história de vida teve como berço de formação a cultura popular de matriz africana. Filha de mãe atriz de teatro e pai educador e mestre da cultura popular, nasceu no ano de 1990 no estado da Bahia, na cidade de Salvador. Atualmente, trabalha como assessora técnica no município de Itatiaiuçu-MG, junto as comunidades atingidas por barragem, diante do conflito socioambiental provocados por grandes empresas mineradoras. Nos projetos que participa  busca sempre o caminho da promoção do cuidado em saúde integral, a partir de uma visão holística, buscando sempre a valorização da identidade, cultura, história e ancestralidade das comunidades e pessoas com os quais trabalha.

Juliana Camargo de Faria Pirró, Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas)

Psicóloga e amante da educação popular. Especialista em Saúde Mental, Saúde Pública e Saúde da Familia com ênfase nas populações do campo, possui também formação em plantas medicinais, artes e educação popular. Sua principal atuação se dá na saúde pública, em dispositivos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com foco na abordagem e luta antimanicomial. Nos últimos anos tem se dedicado à saúde mental das populações do campo, se aproximando e contribuindo com movimentos sociais. Atualmente, trabalha com populações atingidas por barragem.

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Publicado

2021-10-01

Como Citar

SILVA, A. P.; CONCEIÇÃO, C. R.; PIRRÓ, J. C. de F. Assessoria Técnica Independente : A luta por direitos das populações atingidas por barragem de mineração . Revista da UFMG, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 280–309, 2021. DOI: 10.35699/2316-770X.2020.20672. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadaufmg/article/view/20672. Acesso em: 25 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos