Vida e Morte na crise das barragens

Luto Ecológico diante catástrofes do antropoceno

Autores

  • Caio Dayrell Santos Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

DOI:

https://doi.org/10.35699/2316-770X.2020.21435

Palavras-chave:

Barragens de Rejeito, Luto Ecológico, Antropoceno

Resumo

Para além de danos materiais e perdas de vidas humanas e não humanas, desastres como as rupturas de barragens de rejeitos em Mariana e em Brumadinho culminam em perdas abstratas e de difícil apreensão, relativas a sentimentos de apego por coisas e/ou modos de vida que ainda não tinham sido discursivamente elaborados antes de desaparecerem. Através das reflexões transdisciplinares sobre a entrada no chamado Antropoceno e da noção do luto ecológico, definido como respostas afetivas a perdas experienciadas ou antecipadas no mundo natural, esse artigo apresenta uma possível formulação teórica para a descrever e perceber esses danos intangíveis.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, G. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

ALBRECHT, G. Solastalgia: The Distress Caused by Environmental Change. Australasian Psychiatry, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 41-55, fev. 2007. SAGE Publications. Disponível em: https://doi.org/10.1080/10398560701701288. Acesso em: 20 abr. 2020.

ARADAU, C.; MUNSTER, R. V. Politics of Catastrophe: Genealogies of the unknown. New York: Routledge, 2011.

AVELAR, I. Amerindian Perspectivism and Non-Human Rights. Alter/nativas, n. 1, p. 1-21, 2013. Disponível em: https://alternativas.osu.edu/en/issues/autumn-2013/essays/avelar.html. Acesso em: 18 abr. 2020.

BARNETT, J. T. Thinking ecologically with Judith Butler. Culture, Theory and Critique, n. 59, v. 1, p. 20-39, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1080/14735784.2017.1392881. Acesso em: 20 abr. 2020.

BELL, V. From Performativity to Ecology: On Judith Butler and Matters of Survival. Subjectivity, [s.l.], v. 25, n. 1, p. 395-412, 14 nov. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1057/sub.2008.31. Acesso em: 20 abr. 2020.

BOIS, L. Retrato de Barro: fotografías de Lucas Bois. Salamanca: Centro de Estudios Brasileños, 2017. 40 p. Disponível em: https://issuu.com/cebusal/docs/catalogo_lucas_bois. Acesso em: 20 abr. 2020.

BORGES, André; BÓLICO, Lucas. Barragem de rejeitos de lavra de ouro se rompe em MT. Estadão. 2019. Disponível em: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,barragem-de-rejeito-de-lavra-de-ouro-rompe-em-mt,70003033014. Acesso em: 2 nov. 2019.

BUBANDT, N. Haunted geologies: spirits, stones, and the necropolitics of the anthropocene. In: TSING, Anna et al. (Ed.). Arts of Living on a Damaged Planet: Ghosts of the Anthropocene. Minnealopos, London: University Of Minnesota Press, 2017. p. 121-142.

BUTLER, J. Precarious life: the powers of mourning and violence. London: Verso, 2004.

BUTLER, J. Quadros de guerra: Quando a vida é passível de luto? 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 288 p.

BUTLER, J. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Tradução de Fernanda Siqueira Miguens. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

CARVER, T; CHAMBERS, S. A. (Ed.). Judith Butler’s precarious politics: critical encounters. London: Routledge, 2008.

CHUA, L.; FAIR, H. Anthropocene. Cambridge Encyclopedia Of Anthropology, [s.l.], p.1-1, 8 jan. 2019. Disponível em: http://doi.org/10.29164/19anthro. Acesso em: 20 abr. 2020.

CLAYTON, S. et al. Mental Health and Our Changing Climate: Impacts, Implications, and Guidance. Washington: American Psychological Association/Ecoamerica, 2017. 70 p.

CRUTZEN, P. J.; STOERMER, E. F. The ‘Anthropocene’. Global Change Newsletter, v. 41, p. 17-18, 2000.

CUNSOLO, A.; ELLIS, N. R. Ecological grief as a mental health response to climate change-related loss. Nature Climate Change, [s.l.], v. 8, n. 4, p. 275-281, abr. 2018. Disponível em: http://doi.org/10.1038/s41558-018-0092-2. Acesso em: 20 abr. 2020.

DANOWSKI, D.; CASTRO, E. V de. Há mundo por vir?: Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Desterro: Cultura e Barbárie: Instituto Socioambiental, 2017.

DARWIN, C. The Expression of Emotions in Man and Animals. New York: D. Appleton And Company, 1897. 398 p.

DUNKER, C. I. L. Mal-estar na literatura brasileira contemporânea. Estudos Avançados, [s.l.], v. 31, n. 91, p. 193-209, dez. 2017. Disponível em: http://doi.org/10.1590/s0103-40142017.3191015. Acesso em: 20 abr. 2020.

EATON, M. Environmental Trauma and Grief. Curriculum for the Bioregion. Washington: Western Washington University (Program in Sustainability), 2012. Disponível em: https://serc.carleton.edu/bioregion/sustain_contemp_lc/essays/67207.html. Acesso em: 31 nov. 2019.

ESPINDOLA, H. S.; NODARI, E. S.; SANTOS, M. A. Rio Doce: riscos e incertezas a partir do desastre de Mariana (MG). Revista Brasileira de História, [s.l.], v. 39, n. 81, p. 141-162, ago. 2019. Disponível em: http://doi.org/10.1590/1806-93472019v39n81-07, Acesso em: 20 abr. 2020.

FERREIRA, Pedro. Atingidos por Barragens percorrem caminho inverso ao da lama da Samarco. Estado de Minas. 2016. Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/10/31/interna_gerais,819888/atingidos-por-barragens-percorrem-o-caminho-inverso-da-lama-da-samarco.shtml. Acesso em: 18 maio 2020.

FREUD, S. Luto e Melancolia. In: FREUD, S. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010 [1914-1916].

G1 MINAS. ANM interdita 54 barragens de mineração sem estabilidade no país; 33 delas estão em Minas. G1 Minas. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/10/09/anm-interdita-54-barragens-de-mineracao-sem-estabilidade-no-pais-33-delas-estao-em-minas.ghtml. Acesso em: 2 nov. 2019.

GUIMARÃES, Ligia. A lama que “brilha” e reacende traumas de desastre na bacia do Rio Doce. BBC News Brasil. 2020. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51578331. Acesso em: 10 maio 2020.

KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LATOUR, B. Face à Gaïa. Huit conférences sur le nouveau régime climatique. Paris: La Découverte, 2015. [Não paginado.]

LEOPOLD, A. A Sand County Almanac. Oxford: Oxford University Press, 1989 [1949].

LESLIE, E. Walter Benjamin: Overpowering Conformism. London: Pluto Press, 2000.

LOCKWOOD, A. Graphs of grief and other green feelings: the uses of affect in the study of environmental communication. Environmental Communication, [s.l.], v. 10, n. 6, p. 734-748, ago. 2016. Informa UK Limited. Disponível em: http://doi.org/10.1080/17524032.2016.1205642. Acesso em: 20 abr. 2020.

MBEMBE, A. Necropolítica. Arte & Ensaio: revista do PPGAV/EBA/UFRJ, Rio de Janeiro, n. 32, p. 122-151, dez. 2016. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993/7169. Acesso em: 12 nov. 2019.

MENDONÇA, C. M.; MORICEAU, Jean-Luc. Afetos e experiência estética: uma abordagem possível. In: MENDONÇA, Carlos Magno; DUARTE, Eduardo; CARDOSO FILHO, Jorge. Comunicação e sensibilidade: pistas metodológicas. Belo Horizonte: PPGCOM-UFMG, 2016. 249 p.

NOAL, D. S.; RABELO, I. V. M.; CHACHAMOVICH, E. O impacto na saúde mental dos afetados após o rompimento da barragem da Vale. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 35, n. 5, p. 1-7, 20 maio 2019. Disponível em: http://doi.org/10.1590/0102-311x00048419. Acesso em: 20 abr. 2020.

PIHKALA, P. Eco-Anxiety, Tragedy and Hope: Psychological and Spirtual Dimensions of Climate Change. Zygon®, [s.l.], v. 53, n. 2, p. 545-569, jun. 2018. Disponível em: http://doi.org/10.1111/zygo.12407. Acesso em: 12 abr. 2020.

PURDY, J. After nature: a politics for the anthropocene. Cambridge: Havard University Press, 2015. [Não Paginado.]

RANCIÈRE, J. A Partilha do sensível: estética e política. Editora 34: São Paulo, 2009.

RENA, N.; BRUZZI, P. Processos criativos biopotentes constituindo novas possibilidades de constituição do comum no território urbano. Lugar Comum, Rio de Janeiro, UFRJ, n. 43, p. 163-180, maio-ago., 2015.

ROBERTS, B. Espair and personal power in the nuclear age. Joanna Rogers Macy. Atlantis: A Women's studies journal, [s.l.], v. 9, n. 2, p.122-124, spring 1984. Disponível em: http://journals.msvu.ca/index.php/atlantis/article/view/4494. Acesso em: 2 nov. 2019.

RODRIGUES, C. A função do luto na filosofia política de Judith Butler. In: CORREIA, A.; HADDOCK-LOBO, R.; SILVA, C. V. da. Deleuze, desconstrução e alteridade. [s.l.]: ANPOF, 2017. p. 329-339. (Coleção XVII Encontro ANPOF.)

RODRIGUES, Leo. Risco em barragem deixa 457 fora de suas casas em Barão de Cocais. Agência Brasil. 2019. Disponível em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-06/risco-em-barragem-deixa-457-fora-de-suas-casas-em-barao-de-cocais. Acesso em: 2 nov. 2019.

ROQUE, Marco et al. Saúde Mental. In: NEVES, Maila de Castro Lourenço das et al. (Org.). PRISMMA: pesquisa sobre a saúde mental das famílias atingidas pelo rompimento da barragem do fundão em mariana. Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana. Belo Horizonte: Corpus, 2018. p. 49-58.

SÁ, G. Depressão, medo e preconceito: a saúde mental das vítimas de Mariana. National Geographic, [s.l.], p. 1, 14 maio 2018. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2018/05/depressao-medo-ansiedade-preconceito-saude-mental-das-vitimas-de-mariana-tragedia-ambiental-mineracao-estudo-ufmg-barragem-fundao. Acesso em: 2 nov. 2019.

SEDRU – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional de Política Urbana e Gestão Metropolitana. Relatório: Avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento da Barragem de Fundão em Mariana-MG. Belo Horizonte: SEDRU, 2016. 287 p.

SERRA, C. Tragédia em Mariana: a história do maior desastre ambiental do Brasil. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2018 [Não Paginado.]

SODRÉ, M. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Rio de Janeiro: Vozes, 2006. 230 p.

SOS MATA ATLÂNTICA. Observatório dos Rios: O retrato da qualidade da água na bacia do rio Paraopeba após o rompimento da barragem Córrego do Feijão – Minas Gerais. São Paulo: SOS Mata Atlântica, 2019.

STENGERS, I. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015. [Não Paginado.]

VIANA, João Paulo. Os Pescadores da bacia do Rio Doce: subsídios para a mitigação dos impactos socioambientais do desastre da Samarco em Mariana, Minas Gerais (Nota Técnica). Boletim Regional, Urbano e Ambiental: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília, n. 16, p. 103-116, jan.-jun. 2017.

WINDLE, P. The ecology of grief. Bioscience, [s.l.], v. 42, n. 5, p. 363-366, maio 1992. Oxford University Press (OUP). Disponível em: https://doi.org/10.2307/1311783. Acesso em: 20 abr. 2020.

WOODBURY, Z. Climate trauma: toward a new taxonomy of trauma. Ecopsychology, [s.l.], v. 11, n. 1, p. 1-8, mar. 2019. Mary Ann Liebert Inc. Disponível em: https://doi.org/10.1089/eco.2018.0021. Acesso em: abr. 2020.

ZONTA, M.; TROCATE, C. (Org.). Antes fosse mais leve a carga: reflexões sobre o desastre da Samarco/Vale/BHP Billiton. Marabá: Editorial iGuana, 2016. 232 p. v. 2. (Coleção A Questão Mineral.)

Downloads

Publicado

2021-10-01

Como Citar

SANTOS, C. D. Vida e Morte na crise das barragens: Luto Ecológico diante catástrofes do antropoceno. Revista da UFMG, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 126–151, 2021. DOI: 10.35699/2316-770X.2020.21435. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadaufmg/article/view/21435. Acesso em: 20 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos