Decolonialidade e Saberes Tradicionais em Práticas Científicas na Amazônia
DOI:
https://doi.org/10.35699/2316-770X.2021.41582Palavras-chave:
Colonialidade, Amazônia, Desobediência epistêmica, Conhecimentos TradicionaisResumo
O artigo propõe uma reflexão sobre a potencialidade de um despertar epistêmico na Amazônia a partir da colaboração entre formas de conceber e conhecer o mundo enquanto diferentes regimes de conhecimento. Foram realizadas observação participante e entrevistas não-diretivas entre atores sociais envolvidos em práticas científicas na região de Tefé (AM), onde se localiza a instituição na qual foi conduzido o estudo - o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Como recorte para estudo de caso, foi focalizado o método de censo populacional de pirarucus e a abordagem teórico-metodológica da modernidade/colonialidade. Concluímos que um despertar epistêmico na Amazônia deve tornar visíveis e valorizar saberes e práticas tradicionais dos povos indígenas e ribeirinhos, para estabelecer uma colaboração e/ou aliança pragmática entre regimes de conhecimento para que as populações locais possam permanecer nos seus territórios, mantendo “a floresta em pé” e desenvolvendo seus próprios projetos de futuro, a partir de seus saberes e modos de vida ancestrais.
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