Vida e Morte na crise das barragens
Luto Ecológico diante catástrofes do antropoceno
DOI:
https://doi.org/10.35699/2316-770X.2020.21435Palabras clave:
Barragens de Rejeito, Luto Ecológico, AntropocenoResumen
Para além de danos materiais e perdas de vidas humanas e não humanas, desastres como as rupturas de barragens de rejeitos em Mariana e em Brumadinho culminam em perdas abstratas e de difícil apreensão, relativas a sentimentos de apego por coisas e/ou modos de vida que ainda não tinham sido discursivamente elaborados antes de desaparecerem. Através das reflexões transdisciplinares sobre a entrada no chamado Antropoceno e da noção do luto ecológico, definido como respostas afetivas a perdas experienciadas ou antecipadas no mundo natural, esse artigo apresenta uma possível formulação teórica para a descrever e perceber esses danos intangíveis.
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