“Somos atingidos todos os dias”
os efeitos dos desastres na comunidade de Paracatu de Baixo (MG)
DOI:
https://doi.org/10.35699/2316-770X.2020.21462Palabras clave:
Etnografia, Desastre, Minas GeraisResumen
O objetivo deste artigo é descrever como a vulnerabilidade das(os) atingidas(os) pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, foi intensificada com o rompimento da barragem B1, em Brumadinho. A partir de pesquisa de campo realizada com a comunidade de Paracatu de Baixo, verifiquei como a rotina foi alterada por outro desastre em Minas Gerais. Meu argumento é que mesmo a lama de rejeitos não alcançando o município de Mariana, os moradores foram perturbados novamente. Um desastre remete ao outro, na medida em que os moradores acionam a memória para compor narrativas do trauma. Seguindo os relatos das(os) atingidas(os) usados em minha etnografia, proponho uma ampliação da noção de “ser atingido”, considerando o tempo como eixo para pensar as transformações na rotina e os impedimentos das formas de viver. Concluo que a noção abrangente e contígua de atingido é fundamental na construção das lutas e das reivindicações das comunidades atingidas pela mineração.
Descargas
Citas
ANA. Agência Nacional de Águas. Encarte Especial sobre a Bacia do Rio Doce: Rompimento da barragem em Mariana/MG. Brasília: Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, Informe 2015, 2016.
ANTZE, Paul; LAMBEK, Michael. Introduction: Forecasting Memory. In: ANTZE, Paul; LAMBEK, Michael (Ed.). Tense past: cultural essays in trauma and memory. New York: Routledge, 1996.
BARRIOS, Roberto E. What does catastrophe reveal for whom? The anthropology of crises and disasters at the onset of the Anthropocene. Annual Review of Anthropolog, v. 46, n. 1, p. 151-166, 2017. Disponível em: https://www.annualreviews.org/doi/full/10.1146/annurev-anthro-102116-041635. Acesso em: 14 nov. 2017.
BECK, Ulrich. From industrial society to risk society: Questions of survival, social structure, and ecological enlightenment. In: FEATHERSTONE, M. (Ed.). Cultural Theory and Cultural Change. London, Sage Publications, 1992.
BULLARD, Robert D. Confronting environmental racism: voices from the grassroots. Boston, Massachusetts: South End Press, 1993.
CALIS, Juan et al. Riesgo, Territorio e Instituciones en la Antropología de las Catástrofes. Aportes a una perspectiva en construcción. Papeles de Trabajo, Centro de Estudios Interdisciplinarios en Etnolingüística y Antropología Socio-Cultural, n. 34, dic. 2017.
COELHO, Marcela. T/terras Indígenas e Territórios Conceituais: incursões etnográficas e controvérsias públicas. Entreterras, v.1, n. 1, 2018.
DAS, Veena. Critical Events: An Anthropological Perspective on Contemporary India. USA: Oxford University Press, 1995.
DAS, Veena. Life and words: violence and the descent into the ordinary. Berkeley, CA: Univ. Calif. Press , 2007.
DOUGLAS, Mary; WILDAVSKY, Aaron. Risk and Culture: An Essay on the Selection of Technical and Environmental Dangers. Berkeley, CA: Univ. Calif. Press, 1982.
FAILLACE, Sandra Tosta. Comunidade, etnia e religião: um estudo de caso na barragem de Itá (RS/SC). 1990. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1990.
GUATTARI, Félix. Les trois écologies. Paris: Gelilée, 1989.
HELAL FILHO, William. Nossa aparente normalidade inclui rotina de catástrofes, diz líder indígena Ailton Krenak. O Globo. 15 nov. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/nossa-aparente-normalidade-inclui-rotina-de-catastrofes-diz-lider-indigena-ailton-krenak-24081995. Acesso em: 29 maio 2020.
LOSEKANN, Cristiana. Não foi acidente! O lugar das emoções na mobilização dos afetados pela ruptura da barragem de rejeitos da mineradora Samarco no Brasil”. In: ZHOURI, Andréa (Org.). Mineração, violências e resistências. Marabá: Editorial iGuana; ABA, 2018. p. 65-110.
KIRSCH, Stuart. Reverse Anthropology: Indigenous Analysis of Social and Environmental Relations in New Guinea. Stanford, CA: Stanford University Press, 2006.
KIRSCH, Stuart. Mining capitalism: The relationship between Corporations and their critics. Oakland: University of California Press, 2014.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MARCURIO, Gabriela de Paula. O cotidiano e o extraordinário na comunidade de Paracatu de Baixo (MG). 2019. Monografia de Conclusão de Curso (Ciências Sociais) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2019.
MARCURIO, Gabriela de Paula. A rotina extraordinária da comunidade de Paracatu de Baixo (MG) após o rompimento da barragem de Fundão. Equatorial, v. 7, n. 13, p. 1-25, 2020.
MILANEZ, Bruno. Mineração, ambiente e sociedade: impactos complexos e simplificação da legislação. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: Boletim regional, urbano e ambiental, n. 16, p. 93-103, jan.-jun. 2017.
MILANEZ, Bruno; LOSEKANN, Cristiana (Org.). Desastre no Vale do Rio Doce: antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Rio de Janeiro: Folio Digital: Letra e Imagem, 2016.
OLIVER-SMITH, Anthony. Anthropological research on hazards and disasters. Annual Review of Anthropology, v. 25, p. 303-328, 1996.
OLIVER-SMITH, Anthony. What is a disaster?: Anthropological perspectives on a persistent question. In: OLIVER-SMITH, Anthony; HOFFMAN, Susanna F. (Ed.). The Angry Earth. New York: Routledge, 1999.
PEREIRA, Ana Beatriz Nogueira. Sentir o calor da terra, pra sentir que a gente está vivo: memória, identidade e territorialidade na vivência cotidiana do desastre da Samarco. 2019. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.
PoEMAS. Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade. Antes fosse mais leve a carga: avaliação dos aspectos econômicos, políticos e sociais do desastre da Samarco/Vale/BHP em Mariana (MG). 2015. Mimeo.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
SANTOS, Mariana Corrêa dos. O conceito de ‘atingido’ por barragens – direitos humanos e cidadania. Direito & Práxis, Rio de Janeiro, v. 6, n. 11, p. 113-140, 2015.
SCOTT, Parry. Duplamente atingidas: violência, mulheres e políticas do estado numa grande barragem no Nordeste. Revista Anthropológicas, ano 16, v. 23, n. 1, p. 179-190, 2012.
SCOTTO, Gabriela. Narrativas contemporâneas na propaganda corporativa das empresas mineradoras transnacionais: elementos para a análise do “espírito” da mineração. Cuadernos del Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano, v. 27, n. 2, p. 37-54, 2018.
SIGAUD, Lygia. O efeito das tecnologias sobre as comunidades rurais: o caso das grandes barragens. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, n. 18, ano 7, 1992.
TEIXEIRA, Raquel Oliveira Santos. A lama e suas marcas: neoextrativismo e seus efeitos em um contexto de desastre. In: CASTRO, Edna; CARMO, Eunápio. Dossiê desastres e crimes da mineração em Barcarena. Belém: NAEA: UFPA, 2019. p. 207-220.
VAINER, Carlos Bernardo. Conceito de “Atingido”: uma revisão do debate. In: Franklin Daniel Rothman (Org.). Vidas Alagadas: conflitos socioambientais, licenciamento e barragens. 1. ed. Viçosa: UFV, 2008. p. 39-63.
VORMITTAG, Evangelina; OLIVEIRA, Maria; GLERIANO, Josué. Avaliação de saúde da população de Barra Longa afetada pelo desastre de Mariana, Brasil. Ambiente & Sociedade, v. 21, 2018.
WCD. World Commission on Dams. Dams and Development: a new framework for decision making. In: WCD. The Reporto of the World Comission on Dams. London: Earthscan, 2000.
ZHOURI, Andréa et al. O desastre da Samarco e a política das afetações: classificações e ações que produzem o sofrimento social. Ciência e Cultura, Campinas, v. 68, n. 3, 2016.
ZHOURI, Andréa. Introdução. In: ZHOURI, Andréa (Org.). Mineração, violências e resistências: um campo aberto a produção de conhecimento no Brasil. 1. ed., Marabá: Editorial iGuana; ABA, 2018.
ZHOURI, Andréa. Desregulação ambiental e desastres da mineração no Brasil: uma perspectiva da ecologia política. In: CASTRO, Edna; CARMO, Eunápio. Dossiê desastres e crimes da mineração em Barcarena. Belém: NAEA; UFPA, 2019. p. 43-52.