“CHOCO TEM QUE SER VISTO E OUVIDO”
UM OLHAR ERGOLÓGICO SOBRE A ATIVIDADE DE ABATIMENTO DE CHOCO
DOI:
https://doi.org/10.35699/2238-037X.2025.52607Palavras-chave:
Abatimento de choco, Atividade, Corpo-si, Saberes, ValoresResumo
Esta tese busca desvelar saberes e valores em circulação na atividade de abatimento de choco. Essa operação consiste na identificação e derrubada de rochas instáveis realizada manualmente por trabalhadores alocados em duplas, considerada uma das operações mais críticas em termos da saúde e segurança do trabalhador na mineração subterrânea. Têm-se como campo uma mineradora de pequeno porte, familiar, única no mundo a extrair, por meio de lavra subterrânea, determinado tipo de mineral. Adotou-se a Abordagem Ergológica do Trabalho que busca evidenciar a atividade humana situada oferecendo um quadro referencial que não apenas permite o encontro com a atividade, como também questiona o meio em que isso acontece por meio de um debate de normas que mobiliza saberes e os valores em circulação naquela experiência. Num primeiro momento, realizou-se entrevistas exploratórias semiestruturadas, por meio das quais obteve-se informações acerca da história pessoal/familiar e profissional de dois trabalhadores com destacada experiência no abatimento de choco, sendo possível identificar elementos que sugerem o que cada um gosta de fazer ali, porque permanece ali, como construiu sua vida e sua vida no trabalho – considerando-se, sobretudo, a indissociabilidade entre elas. Em seguida, tomou-se o método de Instrução ao Sósia como referência para a aproximação mais efetiva da atividade nessa situação de trabalho, propondo a eles a verbalização detalhada de como a realizam, tornando sua experiência acessível para compreendê-la em seus saberes, valores e renormalizações empreendidas no seu exercício cotidiano. As instruções revelaram um fazer em um ambiente marcado por riscos como baixa luminosidade, ruído, umidade e variações do maciço rochoso, apontando para a necessidade de avançar em direção à compreensão dos saberes de prudência e em dimensões como a atenção, memória, percepção, audição, visão, sensações corporais presentes nos gestos desses trabalhadores e fundamentais, não só para a sua segurança e de seu colega, mas também para as demais operações da mina. Para tal propósito, utilizou-se a Entrevista de Explicitação, convocando os trabalhadores a verbalizar a ação por eles empreendida, enquanto importante fonte de informação sobre a realização da atividade, buscando a descrição de seu desenrolar, tal como ela foi realizada, enquanto trabalho real. Para dar conta do trabalho prescrito, o trabalhador desenvolve no próprio corpo saberes na e pela experiência, deve estar atento aos sinais de risco, memorizá-los e evocar, a todo instante, ainda que de forma não consciente, esses saberes, a fim de sobreviver a cada entrada na mina. Em dupla, ele toma, a todo momento, micro decisões em relação ao que fazer para proteger a si e ao seu companheiro, decisões essas perpassadas por valores como confiança, solidariedade, proteção. Em seu cotidiano de trabalho, esse trabalhador é convocado a lidar com algo que não é padronizado, contingente a cada situação, agindo a partir de sua experiência, requisitada no aqui e agora. O corpo-si, essa “entidade enigmática”, está aí fortemente presente, carregada de saberes encarnados, sensoriais, difíceis de serem verbalizados, mas acessíveis a cada vez que as variabilidades do meio subterrâneo os convocam.
Referências
SANTOS, Luciana Gelape dos. “Choco tem que ser visto e ouvido”: um olhar ergológico sobre a atividade de abatimento de choco. 2024. 211p. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2024.
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