O TRABALHO DOCENTE COM A EDUCAÇÃO DOS AFETOS NAS AULAS DE LITERATURA
PERSPECTIVAS PARA O ENFRENTAMENTO DO IMPACTO DA CULTURA DAS MÍDIAS SOCIAIS NOS DISCENTES DA ESCOLA BÁSICA
DOI:
https://doi.org/10.35699/2238-037X.2025.57837Palavras-chave:
Educação socioemocional, Leitura literária, Cultura midiáticaResumo
As diretrizes oficiais para o ensino básico no Brasil (BNCC) não acompanharam suficientemente a discussão que se estabelecia, no país e no mundo, sobre a formação integral do indivíduo. Assim, hoje temos um documento que privilegia o conhecimento técnico, atrelado a um tipo de educação pós-iluminista (Morin, 2017), em detrimento da educação dos afetos. Este artigo propõe, então, uma reflexão sobre como a experiência estética literária é compreendida pela Base (Portolomeos, 2021, 2022) e sobre como o trabalho docente com a literatura pode consolidar o desenvolvimento de competências sociemocionais no contexto contemporâneo de nossos alunos, marcado pelo “ensimesmamento da cultura do selfie” e da automodelagem (Rocha, 2021). A nossa hipótese é a de que o trabalho com a leitura literária na escola pode ser entendido como uma das principais forças contra o declínio do homo psychologicus, no qual há o deslocamento do eixo em torno do qual se edifica o que se é: de dentro (intro-dirigido) para fora (alter-dirigidos) (Sibilia, 2016). Nessa nova configuração do eu, a imagem de cada um passou a ser o principal valor de troca em detrimento de elementos ligados ao caráter, fato debatido por Richard Sennet (2016) como “corrosão do caráter”. Por outro lado, a leitura literária impulsiona o leitor a um engajamento com personagens e ideias diferentes das dele, impelindo-o a pensar sobre valores como a empatia, a solidariedade e a tolerância na constituição de si mesmo e da sociedade.
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