Teoria, empiria e a questão da interpretação na prática arqueológica brasileira

Autores

Palavras-chave:

Teoria Arqueológica, crítica radical, disciplinaridade, escravidão

Resumo

Eu pretendo, neste texto, defender uma perspectiva disciplinar da prática arqueológica, reconhecendo o potencial único da arqueologia na produção de conhecimento sócio-histórico com base no estudo da materialidade humana em suas dimensões espacial e temporal. Na primeira parte eu busco caracterizar, sucintamente, as perspectivas radicais teóricas que embasam as críticas mais vorazes que têm sido feitas à prática arqueológica, e levanto alguns questionamentos sobre o embasamento e o alcance dessas críticas. A seguir, eu revisito algumas noções básicas sobre a identidade disciplinar da arqueologia e suas especificidades com relação às nossas disciplinas irmãs da antropologia e história. Por fim, busco explorar, com base em alguns exemplos das pesquisas que eu venho conduzindo desde 2012 no norte fluminense, o que eu considero o potencial único da pesquisa arqueológica histórica na produção de conhecimento sócio-histórico sobre o nosso passado recente.

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Publicado

2023-01-23

Como Citar

Symanski, L. (2023). Teoria, empiria e a questão da interpretação na prática arqueológica brasileira. Vestígios - Revista Latino-Americana De Arqueologia Histórica, 17(1), 3–20. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/vestigios/article/view/41730