As metamorfoses do monstro: imagens da coisa no cinema e na literatura popular
DOI:
https://doi.org/10.17851/2317-2096.23.3.99-112Palavras-chave:
identidade, fluidez, cinema, utopia, monstruosidadeResumo
No conto “The Things”, publicado em 2010, Peter Watts apresenta uma versão do filme The Thing, dirigido por John Carpenter, escrita do ponto de vista do monstro. Trata-se de um dos últimos elos de uma corrente de criação e adaptação que começa em 1938, com o conto “Who Goes There?”, de John W. Campbell. As mudanças pelas quais essa história passou apontam para transformações em nossas concepções a respeito da subjetividade, nossos medos e nossos desejos. A mais surpreendente dessas transformações talvez seja a conversão da criatura criada por Campbell de um objeto de horror indescritível para uma encarnação do desejo utópico, um ser que busca trazer comunhão para seres humanos isolados e fragmentados. O que mudou para fazer com que a possibilidade de ser absorvido pelo alienígena deixe de ser a temida extinção do “eu” para se tornar uma fantasia de integração e comunicação total? A criatura em “The Things” oferece uma vida em perpétuo fluxo que apaga as fronteiras da identidade. O objetivo deste artigo é discutir como a história cambiante da Coisa pode revelar alguns aspectos das transformações sofridas pelo ideal moderno de identidade e sua ligação com o corpo como o local do desejo utópico. Parte dessa história é a espetacular explosão do corpo em imagens cinematográficas e a projeção de sua interioridade para a superfície. A transformação da Coisa numa imagem marca um ponto essencial nas alterações que a noção de subjetividade vem sofrendo no mundo contemporâneo.
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