O pastiche de Roberto Bolaño, autor de ficciones

Autores

Palavras-chave:

Roberto Bolaño; Jorge Luis Borges; Pastiche; História; Memória; Trauma.

Resumo

A partir da leitura da biografia fictícia de “Ramírez Hoffman, o infame”, pertencente à obra A literatura nazista na América (2019), examinamos a presença de cópias semelhantes desse texto na reescrita em pastiche de Estrela distante (2009). Bolaño, ao retomar o último capítulo de seu terceiro romance, acaba por fazer, à maneira de Pierre Menard, autor de Quixote, de Borges (2006), um pamlipsesto a partir da apropriação da narrativa biográfica de Hoffman. Por meio da repetição das semelhanças, que ressaltam as singularidades de acontecimentos históricos únicos como entende Gagnebin (2006), Bolaño embaralha memória, história e trauma por meio de uma escrita híbrida pastichada, ao se valer, também, da dicção metaficcional e do jogo entre autobiografia e ficção. Em Estrela distante, a nosso ver, o pastiche ressalta as repetições por meio das diferenças ao criarem um suplemento de escritura derridiano. Por fim, o pastiche de Bolaño está repleto de referências a “fantasmas” e a livros imaginários de autores que, juntos com o autor/narrador, relembram traumas da mais violenta ditadura do Cone Sul dos anos 1970.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Paulo Alberto da Silva Sales, Instituto Federal Goiano

Professor de Linguagens no Instituto Federal Goiano – Campus Hidrolândia/IF Goiano, Hidrolândia, Goiás, Brasil, e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Língua, Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual de Goiás – Campus Cora Coralina/UEG, Cidade de Goiás, Goiás, Brasil. Desenvolve Estágio Pós-Doutoral em Estudos de Literatura na Universidade Federal Fluminense, sob supervisão da Profa. Dra. Ida Alves e co-supervisão da Profa. Dra. Celia Pedrosa.  

Referências

BOLAÑO, Roberto. A literatura nazista na América. Tradução Rosa Freire de Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

BOLAÑO, Roberto. Estrela distante. Tradução Bernardo Ajzenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BORGES, Jorge Luis. Ficções. Tradução Davi Arriguci Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BORGES, Jorge Luis. História universal da infâmia. Tradução Davi Arriguci Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CARPEGGIANI, Schneider. Bolaño, “A literatura nazista na América” e um Noturno do Brasil. Pernambuco, Recife, p. 01, n/c, 03, abr. 2019. Disponível em: https://www.suplementopernambuco.com.br/artigos/2257-bola%C3%B1o,-a-literatura-nazista-na-am%C3%A9rica-e-um-noturno-do-brasil.html. Acesso em: 2 nov. 2023.

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha, primeiro livro. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2002.

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2007. v. 2.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 2011.

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Tradução Pérola de Carvalho, Maria Beatriz Marques e outros. São Paulo: Perspectiva, 2009.

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Tradução Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Tradução Miriam Schnaiderman e Renato J. Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2008.

FRANCO, Jean. Pastiche in Contemporary Latin American Culture. Studii Cercetari Linguistici (STCL), v. 14, n. 1, 95-107, 1990. DOI: https://doi.org/10.4148/2334-4415.1245.

GANEGBIN, Jeanne. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.

GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Tradução Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega, 1995.

GENETTE, Gérard. Palimpsestes: la littérature au second degré. Paris: Éditions du Seuil, 1982.

HOESTEREY, Ingeborg. A discourse history of pasticcio and pastiche. In: Pastiche: Cultural Memory in Art, Film, Literature. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 1-15.

HOESTEREY, Ingeborg. Literary pastiche. In: Pastiche: Cultural Memory in Art, Film, Literature. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 80-103.

PINHEIRO, Tiago Guilherme. Literatura sob rasura: autonomia, neutralização e democracia em J.M. Coetzee e Roberto Bolaño. 2014. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

SALES, Paulo. Sob o signo da escritura: ficção-crítica, biografia e história em Haroldo Maranhão. 2014. 223 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2014.

SANTIAGO, Silviano. Glossário de Derrida. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

SOUSA, Fábio da Silva. O anoitecer das estrelas chilenas: a resistência oculta e literária de Roberto Bolaño. Faces da História, v. 7, n. 2, p. 342-367, 2020. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/1772. Acesso em: 11 dez. 2023.

WINN, Peter. A Revolução Chilena. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

ZÁRATE, Verónica. Pinochetismo e guerra social no Chile (1973-1989). In: MOTTA, Rodrigo Pato Sá. (org.). Ditaduras militares: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015. p. 121-141.

Downloads

Publicado

2024-06-19

Como Citar

Sales, P. A. da S. (2024). O pastiche de Roberto Bolaño, autor de ficciones. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 34(2), 82–95. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/49562

Edição

Seção

Dossiê - Aniversário de 70 anos de Roberto Bolaño em 2023