O pastiche de Roberto Bolaño, autor de ficciones

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2317-2096.2024.49562

Palavras-chave:

Roberto Bolaño, Jorge Luis Borges, pastiche, história, memória, trauma

Resumo

A partir da leitura da biografia fictícia de “Ramírez Hoffman, o infame”, pertencente à obra A literatura nazista na América (2019), examinamos a presença de cópias semelhantes desse texto na reescrita em pastiche de Estrela distante (2009). Bolaño, ao retomar o último capítulo de seu terceiro romance, acaba por fazer, à maneira de Pierre Menard, autor de Quixote, de Borges (2006), um pamlipsesto a partir da apropriação da narrativa biográfica de Hoffman. Por meio da repetição das semelhanças, que ressaltam as singularidades de acontecimentos históricos únicos como entende Gagnebin (2006), Bolaño embaralha memória, história e trauma por meio de uma escrita híbrida pastichada, ao se valer, também, da dicção metaficcional e do jogo entre autobiografia e ficção. Em Estrela distante, a nosso ver, o pastiche ressalta as repetições por meio das diferenças ao criarem um suplemento de escritura derridiano. Por fim, o pastiche de Bolaño está repleto de referências a “fantasmas” e a livros imaginários de autores que, juntos com o autor/narrador, relembram traumas da mais violenta ditadura do Cone Sul dos anos 1970.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Paulo Alberto da Silva Sales, Instituto Federal Goiano (IF Goiano) | Hidrolândia | GO | BR

Professor de Linguagens no Instituto Federal Goiano – Campus Hidrolândia/IF Goiano, Hidrolândia, Goiás, Brasil, e do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Língua, Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual de Goiás – Campus Cora Coralina/UEG, Cidade de Goiás, Goiás, Brasil. Desenvolve Estágio Pós-Doutoral em Estudos de Literatura na Universidade Federal Fluminense, sob supervisão da Profa. Dra. Ida Alves e co-supervisão da Profa. Dra. Celia Pedrosa.  

Referências

BOLAÑO, Roberto. A literatura nazista na América. Tradução Rosa Freire de Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

BOLAÑO, Roberto. Estrela distante. Tradução Bernardo Ajzenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BORGES, Jorge Luis. Ficções. Tradução Davi Arriguci Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BORGES, Jorge Luis. História universal da infâmia. Tradução Davi Arriguci Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

CARPEGGIANI, Schneider. Bolaño, “A literatura nazista na América” e um Noturno do Brasil. Pernambuco, Recife, p. 01, n/c, 03, abr. 2019. Disponível em: https://www.suplementopernambuco.com.br/artigos/2257-bola%C3%B1o,-a-literatura-nazista-na-am%C3%A9rica-e-um-noturno-do-brasil.html. Acesso em: 2 nov. 2023.

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha, primeiro livro. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2002.

CERVANTES SAAVEDRA, Miguel de. O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha. Tradução Sérgio Molina. São Paulo: Ed. 34, 2007. v. 2.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução Luiz Orlandi e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 2006.

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo: Perspectiva, 2011.

DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Tradução Pérola de Carvalho, Maria Beatriz Marques e outros. São Paulo: Perspectiva, 2009.

DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Tradução Rogério da Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005.

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Tradução Miriam Schnaiderman e Renato J. Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2008.

FRANCO, Jean. Pastiche in Contemporary Latin American Culture. Studii Cercetari Linguistici (STCL), v. 14, n. 1, 95-107, 1990. DOI: https://doi.org/10.4148/2334-4415.1245.

GANEGBIN, Jeanne. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.

GARRAMUÑO, Florencia. Frutos estranhos: sobre a inespecificidade na estética contemporânea. Tradução Carlos Nougué. Rio de Janeiro: Rocco, 2014.

GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Tradução Fernando Cabral Martins. Lisboa: Vega, 1995.

GENETTE, Gérard. Palimpsestes: la littérature au second degré. Paris: Éditions du Seuil, 1982.

HOESTEREY, Ingeborg. A discourse history of pasticcio and pastiche. In: Pastiche: Cultural Memory in Art, Film, Literature. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 1-15.

HOESTEREY, Ingeborg. Literary pastiche. In: Pastiche: Cultural Memory in Art, Film, Literature. Bloomington: Indiana University Press, 2001. p. 80-103.

PINHEIRO, Tiago Guilherme. Literatura sob rasura: autonomia, neutralização e democracia em J.M. Coetzee e Roberto Bolaño. 2014. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

SALES, Paulo. Sob o signo da escritura: ficção-crítica, biografia e história em Haroldo Maranhão. 2014. 223 f. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2014.

SANTIAGO, Silviano. Glossário de Derrida. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

SOUSA, Fábio da Silva. O anoitecer das estrelas chilenas: a resistência oculta e literária de Roberto Bolaño. Faces da História, v. 7, n. 2, p. 342-367, 2020. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/1772. Acesso em: 11 dez. 2023.

WINN, Peter. A Revolução Chilena. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

ZÁRATE, Verónica. Pinochetismo e guerra social no Chile (1973-1989). In: MOTTA, Rodrigo Pato Sá. (org.). Ditaduras militares: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015. p. 121-141.

Downloads

Publicado

2024-06-19

Como Citar

Sales, P. A. da S. (2024). O pastiche de Roberto Bolaño, autor de ficciones. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 34(2), 82–95. https://doi.org/10.35699/2317-2096.2024.49562

Edição

Seção

Dossiê - Aniversário de 70 anos de Roberto Bolaño em 2023