O estatuto ontológico da ficção – da teoria literária às ciências sociais
apontamentos filosóficos
Palavras-chave:
Ficção; Imaginação; Wolfgang Iser; Paul Ricoeur; Antropoceno.Resumo
Este texto investiga como a ficção redefine-se a partir das questões prementes forjadoras da realidade social, afetando sua constituição no campo literário e seu impacto nas ciências sociais, especialmente após a virada linguística dos anos 1970. Para operar tal intento, apresenta-se concisa revisão de seu estatuto ontológico a partir da modernidade, buscando posteriormente posicioná-la no escopo das ciências sociais, bem como suas novas perspectivas ante o conceito de antropoceno e a virada ontológica não-humana perpetrada pela antropologia contemporânea, que questiona os postulados fundamentais da razão filosófica ocidental, catalisando certa retomada de narrativas de antecipação. Destacam-se como aportes teóricos a teoria estética da recepção da leitura de Wolfgang Iser e a hermenêutica de Paul Ricœur. A partir da dialética entre texto e leitor, esboçada na obra destes autores, a ficção transmuta-se de figura retórica de obras literárias para potência inovadora de criação e desvelamento de (novas) realidades sociais.
Downloads
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. Revisão da tradução e tradução de novos textos de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.
AMALRIC, Jean-Luc. Símbolo, metáfora e narrativa: o estatuto do ficcional em Ricœur. In: WU, R.; NASCIMENTO, C. R. do (orgs.). Pensar Ricœur: vida e narração. Porto Alegre: Editora Clarinete, 2016. p. 131-167.
ARAÚJO, André. Quando o familiar se tornou um alienígena? Sobre antropoceno e ficção. Suplemento Pernambuco. Jornal literário da companhia editora de Pernambuco. Disponível em: https://suplementopernambuco.com.br/capa/3074-quando-o-familiar-se-tornou-um-alien%C3%ADgena.html. Acesso em: 12 jun. 2022.
COCCIA, Emanuele. A vida das plantas. Uma metafísica da mistura. Tradução de Fernando Scheibe. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018.
CRUTZEN, Paul J.; STOERMER, Eugene F. The “Anthropocene”. Global change newsletter. The International Geosphere–Biosphere Programme (IGBP): A Study of Global Change of the International Council for Science (ICSU), No. 41, 2000. Disponível em: www.igbp.net/download/18.316f18321323470177580001401/1376383088452/NL41.pdf. Acesso em: 12 jun. 2022.
DESPRET, Vinciane. Autobiografia de um polvo e outras narrativas de antecipação. Tradução de Milena P. Duchiade. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2021.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. 6. ed., São Paulo: Editora Martins Fontes, 2006.
GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Da dignidade ontológica da literatura. Rapsódia. São Paulo, Brasil, v. 1, n. 8, p. 51-67, 2014. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2447-9772.i8p51-67.
GEERTZ, Clifford. Mistura de gêneros: a reconfiguração do pensamento social. In: O saber local: novos ensaios de antropologia interpretativa. Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. p. 33-56.
ISER, Wolfgang. The fictive and the imaginary: Charting Anthropology Literary. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1993.
ISER, Wolfgang. O ato de leitura: uma teoria do efeito estético. Vol. 1. Tradução de Johannes Kretschmmer. São Paulo: Editora 34, 1996.
ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. In: ISER, W.; ROCHA, J. C. C. Teoria da ficção: indagações à obra de Wolfgang Iser. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1999, p. 65-77. Disponível em: iedamagri.files.wordpress.com/2018/09/iser-wolfgang-o-ficticc81cio-e-o-imaginacc81rio.pdf. Acesso em: 12 jun. 2022.
JAHNKE, Hans-Richard. O conceito da compreensão na sociologia de Max Weber. Portugal: Ed. Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013.
LE GUIN, Ursula K. A autora das sementes de acácia e outras passagens da Revista da Associação de Therolinguística. Tradução de Gabriel Cevallos. 2021. Disponível em: https: kinobeat.com/wp-content/uploads/Traducao-oficial-A-autora-das-sementes-de-acacia-.pdf. Acesso em: 14 jun. 2023.
LIMA, Luiz Costa. História. Ficção. Literatura. 1ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Tradução de Waltensir Dutra. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1982.
OLINTO, Heidrun Krieger. Novas sensibilidades na historiografia (literária). Itinerários. n. 22, 2004.
RICŒUR, Paul. ¿Que es um texto? In: Historia y Narratividad: 1. Tradução (Castelhano) de Gabriel Aranzueque Sahuquillo. Barcelona: Edicionés Paídós Ibérica, 1999. p. 59-83.
RICŒUR, Paul. Del texto a la Acción: ensayos de hermeneutica II. Tradução (espanhol) de Pablo Corona. Fondo de cultura econômica, 2002.
RICŒUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo I – A intriga e a narrativa histórica. Tradução de Cláudia Berliner. São Paulo: Editora Martins Fontes. 2010a.
RICŒUR, Paul. Tempo e narrativa. Tomo III – O Tempo Narrado. Tradução de Claudia Berliner. Editora Martins Fontes. São Paulo. SP. 2010b. [1983].
RICŒUR, Paul. Hermenêutica e ideologias. Tradução de Hilton Japiassu. 3. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 2013.
SAER, Juan José. O conceito de ficção. Tradução de Luís Eduardo Wexell Machado. Revista FronteiraZ. São Paulo, n. 8, 2012. Disponível em: https://www.pucsp.br/revistafronteiraz/download/pdf/TraducaoSaer-versaofinal.pdf. Acesso em: 27 mai. 2024.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
SIMONI, Mariana. Narrativas do esgotamento e historiografia (literária) brasileira no antropoceno. Revista Odisseia. v. 5, n. Especial, p. 127-143, 2020. DOI: https://doi.org/10.21680/1983-2435.2020v5nEspecialID23554.
SOARES, Ricardo; MACHADO, Wilson. O programa científico do Antropoceno. Estudos Avançados. n. 35, v. 101. 2021. DOI: https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2021.35101.018.
STIERLE, Karlheinz. A ficção. Tradução de Luiz Costa Lima. Coleção Novos Cadernos de Mestrado, v. 1. Rio de Janeiro: Caetés, 2006.
TOMM, Davi Alexandre; SPERB, Maria Petrucci. Para além da narrativa épica da Ciência: reativando o animismo com Isabelle Stengers. Cadernos do IL, n. 62, p 110-137, 2021. DOI: https://doi.org/10.22456/2236-6385.127997.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo; DANOWSKI, Déborah. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie/Instituto Socioambiental, 2018.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, G. (Org.). Sociologia. Tradução de Gabriel Cohn. São Paulo: Editora Ática. Coleção Grandes Cientistas Sociais – 13, 2003, p. 13-107.
WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Volume 1. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Brasília: Editora da UnB, 2000.
WEIGEL, Moira; HARAWAY, Donna. Uma enorme e pretensiosa ninhada: Donna Haraway sobre verdade, tecnologia e resistência à extinção. Garrafa, v. 20, n. 57, 2022. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/garrafa/article/view/55723. Acesso em: 27 mai. 2024.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Leonardo Augusto Nascimento dos Santos, Genauto Carvalho de França Filho (Autor)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja The Effect of Open Access).