Mário de Andrade e a cultura popular
“Briga das Pastoras”, literatura e folclore
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.23.3.170-179Palavras-chave:
Mário de Andrade, Briga das Pastoras, FolcloreResumo
Dentre os múltiplos campos de atuação cultural aos quais Mário de Andrade fervorosa e habilmente se aplicou, um dos mais realçados e estudados pela crítica é o ligado ao folclore e à cultura popular. Destacam-se, na fecunda produção do escritor sobre as manifestações e tradições de nosso povo, a correspondência com Luís da Câmara Cascudo, a “viagem etnográfica” às regiões Norte e Nordeste e os estudos de fôlego sobre a música e a dança brasileiras. Na esfera ficcional, sobressai a rapsódia Macunaíma. O interesse do autor pelo folclore nordestino também aparece, de forma vigorosa e lancinante, em um instigante conto da maturidade pouco conhecido, “Briga das Pastoras”, cujo narrador, “turista aprendiz” em viagem a Pernambuco, revela possuir, tal qual Mário, sólidos conhecimentos metodológicos e epistemológicos em Etnologia e Etnografia. Mário, no entanto, deixou registrado em nota o desejo de que o conto não fosse publicado em livro. Por quê? A alusão à “atitude de inteligência nacional eminentemente cafajeste” no final do apontamento parece indicar, a despeito dos significativos traços autobiográficos que permeiam a narrativa, a disparidade entre os pontos de vista do autor e do narrador nos âmbitos estético e ideológico.Downloads
Referências
ABDALA JUNIOR, Benjamin. Literatura Comparada & Relações Comunitárias, Hoje. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.
ANDRADE, Mário de. Obra Imatura. São Paulo: Martins; Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
ANDRADE, Mário de. Os Cocos. São Paulo: Duas Cidades; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1984.
ANDRADE, Mário de. Danças Dramáticas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1982.
BOTELHO, André. De olho em Mário de Andrade: uma descoberta intelectual e sentimental do Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
BUENO, Raquel Illescas. As excursões etnológicas de Mário de Andrade e Lévi-Strauss. FronteiraZ, nº 17, dez. 2016, p.215-224.
BUENO, Raquel Illescas. Casa-grande e mucambo: Mário de Andrade no Pastoril de Maria Cuncáu. Guavira Letras, nº 23, jul. / dez. 2016, p.90-100.
CASCUDO, Luís da Câmara. Câmara Cascudo e Mário de Andrade: cartas 1924-1944. Pesquisa documental, iconográfica, estabelecimento de texto e notas (organizador): Marcos Antonio de Morais. São Paulo: Global, 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
JARDIM, Eduardo. Mário de Andrade: Eu sou trezentos: vida e obra. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2015.
MARQUES, Ivan. O apaixonado da coisa popular. In: ANDRADE, Mário de. Briga das Pastoras e outras histórias: Mário de Andrade e a busca do popular. Organização: Ivan Marques. São Paulo: Edições SM, 2016, p.121-134.
MORAES, Marcos Antonio de (organização, introdução e notas). Mário, Otávio: Cartas de Mário de Andrade a Otávio Dias Leite (1936-1944). São Paulo: IEB-USP / Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes / Imprensa Oficial, 2006.
RIBEIRO, Darcy. Liminar – Macunaíma. In: ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. 2ª edição. Ed. Crítica de Telê Porto Ancona Lopez. Coleção Arquivos, Unesco, 1996, p.XVII-XXII.
VALENTINI, Luísa. Um laboratório de antropologia: o encontro entre Mário de Andrade, Dina Dreyfus e Claude Lévi-Strauss (1935-1938). São Paulo: Alameda, 2013.
REFERÊNCIA ICONOGRÁFICA
“Pastoril”, pintura de Irene Medeiros. Disponível em http:// www.overmundo.com.br/overblog/o-sangue-alagoano-e-azul-eencarnado. Acesso em 01/06/2017.



