Quem conta minha história? As mutilações do cânone e a construção do Outro em Foe, de J. M. Coetzee

Autores

  • Jivago Araújo Holanda Ribeiro Gonçalves Universidade Federal do Piauí (UFPI)
  • Sebastião Alves Teixeira Lopes Universidade Federal do Piauí (UFPI)

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-0739.23.3.85-99

Palavras-chave:

Pós-colonialismo, Outro, Foe, Colonizado, Coetzee

Resumo

Tomando a narrativa literária como campo fecundo para revisitação de obras já canonizadas, Foe, escrito em 1986 por J. M. Coetzee, se inscreve em um amplo debate acerca da representatividade dos sujeitos em situações subalternizadas e suas possibilidades de expressão, via texto literário, que se inicia a partir dos anos 1960 com o recrudescimento dos estudos pós-coloniais. A obra em questão reconfigura as relações entre personagens outrora representados na tradição da literatura inglesa, a saber, o colonizador branco e o escravizado negro. O texto é uma releitura direta de The tempest (1611), de William Shakespeare e Robinson Crusoé (1719), de Daniel Defoe. Interessa pensar em que medida se efetua na obra uma reconfiguração dos posicionamentos de tais personagens, que visa elucidar a sub-representação à qual o sujeito negro, na condição de sujeito escravizado, foi submetido. A simbologia arquitetada por Coetzee é precisa: o sujeito escravizado, de nome Sexta-feira, é mutilado fisicamente – não possui sua própria língua, pois essa lhe foi cortada por seu antigo dono, e assim não é capaz de contar sua própria história. De tal fato sobrevém o cerne da narrativa: a ressignificação do silêncio enquanto única instância de resistência frente ao projeto colonizador. Assim, este trabalho busca responder aos questionamentos que a obra literária suscita na ordem das possibilidades de fala do sujeito negro e da legitimidade de sua representação e constituição como o Outro do colonizador. Para isso, privilegiamos as relações que se estabelecem na obra entre o sujeito europeu, detentor da fala e da possibilidade da escrita, e o sujeito subalternizado, privado de sua capacidade de fala.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Jivago Araújo Holanda Ribeiro Gonçalves, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

    Mestre, Universidade Federal do Piauí.

  • Sebastião Alves Teixeira Lopes, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

    Doutor, Universidade Federal do Piauí.

Referências

ALEXANDER, Neville. Cidadania, identidade racial e construção nacional na África do Sul. Tempo social, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 113-129, 2006.

ASHCROFT, Bill. Postcolonial studies: the key concepts. New York: Taylor and Francis Press, 2007.

ATTRIDGE, Derek. The silence of the canon. In: Literature in the event: J. M. Coetzee and the ethics of reading. Chicago: University of Chicago Press, 2004. p. 65-90.

BHABHA, Homi K. Interrogando a identidade: Frantz Fanon e a prerrogativa pós-colonial. In: O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. p. 70-104.

BLASER, Thomas. “Raça”, ressentimento e racismo: transformações na África do Sul. In: Cadernos Pagu, Campinas, n. 35, p. 111-137, 2010.

BONNICI, Thomas. Introdução ao estudo das literaturas póscoloniais. In: Mimesis, Bauru, v. 19, n. 1, p. 07-23, 1998.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das letras, 1992.

COETZEE, John Maxwell Foe. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

DURRANT, Sam. Postcolonial narrative and the working of mourning. State University of New York Press, 2004.

POYNER, Jane. J. M. Coetzee and the paradox of postcolonial authorship. Burlington: Ashgate, 2009.

SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

Downloads

Publicado

2018-08-29