Pelas tramas do Quibungo
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.22.2.64-83Palavras-chave:
cultura afrobrasileira, memória, arte verbal oral, produção de textosResumo
É possível estabelecer relações entre o ato de produzir textos escritos e o exercício de tecer, que se revela na própria etimologia das palavras texto e tecer, afinal, sabemos, que tecer provém do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento. Como o artesão que entrelaça as tramas de seu trabalho-arte, o escritor trabalha a língua para nela inscrever sua voz. No entanto, muitas vezes na educação básica, ausenta-se essa tessitura. E se o artesão tem como matéria-prima fios de algodão, vime ou outros, esse escritor, às vezes ausente na escola, talvez possa lançar mão de narrativa orais. Um exemplo pode ser apontado com transcriações de contos orais afrobrasileiros envolvendo o Quibungo. A presença africana pode ser observada no próprio nome do personagem, que revela diálogos entre o português e línguas banto. Histórias do Quibungo integram um corpus de contos orais que vem sendo objeto de reflexões no projeto Vozes africanas nas Américas: a palavra banto em contos orais afrobrasileiros e afrocubanos, desenvolvido por Josiley Francisco de Souza, na Faculdade de Educação da UFMG. No contexto escolar, essas narrativas podem promover trabalhos que envolvem diálogos transculturais entre língua portuguesa e línguas banto, entre culturas orais e escritas, entre histórias e memórias africanas e afrobrasileiras historicamente silenciadas.
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