Entre o estético e o político
reflexões sobre o caráter contra-hegemônico da poesia slam
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.29.1.189-204Palavras-chave:
Slam, Prática cultural, Poesia faladaResumo
Em anos recentes, a poesia slam alcançou um espaço notável no Brasil, enquanto modalidade de produção literária. Intimamente conectada à realidade sociocultural de grupos periféricos e historicamente subalternizados, ela se apresenta, sobretudo, como uma forma de resistência. Este trabalho pretende, a partir do campo dos Estudos Culturais, principalmente por meio dos estudos da colonialidade, evidenciar a poesia slam como uma prática cultural de caráter contra-hegemônico, marcada, com base em Mignolo (2008), enquanto uma forma de “desobediência epistêmica”. A discussão é empreendida, ainda, com base em autores como Glissant (2005), Curiel (2020), Lugones (2020), Evaristo (2019), Taylor (2016), entre outros. Para a construção do debate, são tomados alguns textos da coletânea Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta (2019), organizada pela poeta Mel Duarte e composta de textos de diferentes mulheres slammers. Verifica-se que a poesia slam adquire seu caráter contra-hegemônico numa intersecção necessária de fatores estéticos e políticos, colocando-se como resistência em relação a discursos historicamente legitimados.
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