A suspensão do mundo pela linguagem

A primavera da pontuação, de Vítor Ramil

Autores

  • João Batista Pereira Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-0739.27.1.231-248

Palavras-chave:

Grotesco, Vítor Ramil, Riso, Fantástico, Linguagem

Resumo

Este artigo visa refletir sobre a natureza do grotesco em A primavera da pontuação, de Vítor Ramil. Para responder a esse objetivo adotamos preceitos teóricos de Victor Hugo, Mikhail Bakhtin, Wolfgang Kayser e Hugo Friedrich, alusivos às origens históricas, literárias e estéticas do gênero, cujas contradições alcançam o leitor pela comicidade, angústia ou estranhamento. Esses são aspectos presentes no romance analisado, que adota a unidade linguística com vistas à criação ficcional ao personificar letras, sinais de pontuação, símbolos gráficos e classes gramaticais, imersos em uma sociedade injusta e desigual. Essa estratégia narrativa é instituída pelo humor, a partir do nonsense, que, com os duplos sentidos, surge como artifício estético para se opor às repressões sociais. Definido pelo riso, uma das marcas definidoras do gênero, assentimos que o grotesco se plasma no relato ao suspender a realidade pela força da linguagem e alegorizar criticamente acontecimentos recentes da história política do Brasil.

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Biografia do Autor

  • João Batista Pereira, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

    Professor do Departamento de Letras e do Programa de Pós- Graduação em Estudos da Linguagem - UFRPE (Recife, PE).

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Publicado

2021-09-16

Edição

Seção

Teoria, Crítica Literária, outras Artes e Mídias