A tradução de Ovídio, o poeta do amor, no Império do Brasil
o “erótico”, a moral e a educação no século XIX
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.27.2.208-220Palavras-chave:
Neoclássico, Império do Brasil, Nacionalismo, Educação, GêneroResumo
Esta reflexão insere-se nas discussões dos usos do passado, aqui, em particular, na articulação do Brasil Império com as suas heranças clássicas, na metade do século XIX. Para legitimar a imagem de Nação construída a partir das referências históricas consideradas legítimas pelas elites imperiais, era de grande importância a conexão com as bases da civilidade ocidental: latina, com a sua língua materna, o latim, e o direito romano, e as tradições grega e hebraica. Neste processo, saber as letras antigas e ler obras de autores latinos e gregos era o caminho para a erudição e o conhecimento necessário ao homem virtuoso. Dentre os diversos autores traduzidos para o português está o romano Públio Ovídio Nasão. A questão era como publicar e interpretar um autor que tratava de conquistas amorosas e sexualidade dos antigos romanos, e seus conflitos, contradições e zombarias, em um momento em que se dava o aumento da publicação de jornais e livros, das escolas, da crescente feminização do público leitor e da definição e imposição de austeros valores. A leitura dos clássicos, ou limitações a eles, reforça um modelo idealizado de sociedade que nos possibilita examinar aspectos que envolvem a seleção e tradução e publicação de textos antigos em um cenário político e social que, ao mesmo tempo em que valorizava o vínculo com determinadas sociedades antigas e com elementos neoclássicos, precisava resolver os atritos identificados entre os códigos morais vigentes e os aspectos “eróticos” contidos nas obras ovidianas. É esta articulação entre um ideal de civilidade, cultura, educação e os embates morais em torno da publicação das obras ovidianas no Brasil que serão tratados neste texto.
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