A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector
o silêncio, o informe e a pulsão selvagem
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.27.3.33-58Palavras-chave:
A maçã no escuro, Clarice Lispector, Silêncio, Informe, SelvagemResumo
Este artigo tem como objetivo abordar a crise da representação no romance A maçã no escuro (1961), de Clarice Lispector (1920-1977), perfazendo-se por meio das tópicas do silêncio, do informe e da pulsão selvagem. Para isso, apontaremos marcas de um drama da linguagem na narrativa, de acordo com o projeto estético moderno, que se desenvolve no conjunto ficcional da autora, isto é, quando a ficção encontra-se no seu limite. Nessa perspectiva, o narrar coloca-se por meio de imagens que evocam o inexpressivo e a desorganização do sujeito. Em nossa reflexão, tais questões evidenciar-se-ão, sobretudo, em silêncios que nascem da aproximação entre o personagem Martim e o selvagem. No que tange ao informe associado ao selvagem e ao inexpressivo, dialogaremos principalmente com Georges Bataille (2018) e Evando Nascimento (2012).
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