A modulação da ideia de “formação do Brasil” na crítica literária
continuidades e divergências entre Antonio Candido e Roberto Schwarz
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.26.1.195-212Palavras-chave:
Modernização, Formação do Brasil, Horizonte de expectativas, Antonio Candido, Roberto SchwarzResumo
Categoria de grande importância na vida intelectual brasileira, a ideia de “formação do Brasil” guarda relação profunda com os projetos de modernização nacional que se foram estabelecendo no país, sobretudo, a partir da década de 1930. Tendo em vista que os diferentes projetos de modernização nacional possuem divergências significativas entre si, reduzi-los a um modelo único seria uma “abstração violenta” (SAYER, 1987). Por outro lado, ao assumirem certa tarefa histórica de “fazer o país”, permitem-nos pensá-los em conjunto. Não é por acaso, portanto, que tal noção figure, em título ou “em espírito”, em alguns dos textos mais importantes do pensamento social brasileiro. No caso da crítica literária, ela é central na modulação do pensamento de dois de seus agentes de maior prestígio: Antonio Candido e Roberto Schwarz. Normalmente associados pela continuidade de seus métodos e avaliações críticas, procurarei neste trabalho discutir e historicizar a maneira pela qual estes críticos acabam por mobilizar um cabedal metodológico comum, associado à ideia de “formação”, mas apontam para horizontes históricos distintos e, assim, apresentam diferenças das mais significativas entre seus trabalhos. Dessa forma, algo da visão consagrada de Schwarz como continuador do trabalho de Candido é posto em discussão.
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