Um relógio na sala

tempo, alegoria e história em Avalovara

Autores

  • Pedro Couto Universidade de Brasília (UnB)

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-0739.26.3.172-192

Palavras-chave:

Osman Lins, Tempo, Temporalidade, Alegoria, História

Resumo

Analisa-se o fragmento P, “O Relógio de Julius Heckethorn”, do romance Avalovara, de Osman Lins (1924 – 1978), publicado em 1973, a fim de enfocar o caráter alegórico que a linha representa para a totalidade poética do romance. Ensaiamos demonstrar como, tematicamente, a página inicial do livro é uma espécie de pista cifrada, enfocando-se um objeto ali descrito, um relógio, que reverbera em outras instâncias textuais da trama de Osman Lins e representa uma alegoria da arte de escrever romances. Faz-se uma breve contextualização da história de relógios e noções científico-filosóficas de tempo/temporalidade. (POMIAN, 1993). Também, valemo-nos da discussão sobre as aporias do tempo e sua relação poética. (RICOEUR, 1994; 2010). Por fim, argumentamos que o romance anuncia, inserido na poética osmaniana, uma resposta não soteriológica e não escatológica da História. O texto de Lins se apoia no tantra, no encontro não binarista dos corpos: o gozo, também tematicamente trabalhado no romance, coloca o Amor como gravidade em torno da qual a Política se presentifica.

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Biografia do Autor

  • Pedro Couto, Universidade de Brasília (UnB)

    Doutor em Literatura pela Universidade de Brasília. Professor do Instituto Federal de Brasília.

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Publicado

2021-06-22

Edição

Seção

Teoria, Crítica Literária, outras Artes e Mídias