Um relógio na sala
tempo, alegoria e história em Avalovara
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.26.3.172-192Palavras-chave:
Osman Lins, Tempo, Temporalidade, Alegoria, HistóriaResumo
Analisa-se o fragmento P, “O Relógio de Julius Heckethorn”, do romance Avalovara, de Osman Lins (1924 – 1978), publicado em 1973, a fim de enfocar o caráter alegórico que a linha representa para a totalidade poética do romance. Ensaiamos demonstrar como, tematicamente, a página inicial do livro é uma espécie de pista cifrada, enfocando-se um objeto ali descrito, um relógio, que reverbera em outras instâncias textuais da trama de Osman Lins e representa uma alegoria da arte de escrever romances. Faz-se uma breve contextualização da história de relógios e noções científico-filosóficas de tempo/temporalidade. (POMIAN, 1993). Também, valemo-nos da discussão sobre as aporias do tempo e sua relação poética. (RICOEUR, 1994; 2010). Por fim, argumentamos que o romance anuncia, inserido na poética osmaniana, uma resposta não soteriológica e não escatológica da História. O texto de Lins se apoia no tantra, no encontro não binarista dos corpos: o gozo, também tematicamente trabalhado no romance, coloca o Amor como gravidade em torno da qual a Política se presentifica.
Downloads
Referências
AGOSTINHO DE HIPONA. Confissões. 2. ed. Tradução de Lorenzo Mammì. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
BORGES, Jorge Luis. Borges oral & sete noites. Tradução de Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
COOK, Theodore Andrea. The Curves of Life: Being an Account of Spiral Formations and Their Application to Growth in Nature, to Science and to Art; with Special Reference to the Manuscripts of Leonardo Da Vinci. London : Constable, 1914.
DALCASTAGNÈ, Regina. A garganta das coisas: movimentos de Avalovara, de Osman Lins. São Paulo/Brasília: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/Editora da Universidade de Brasília, 2000.
DOLZANE, Harley Farias & FERRAZ, Antônio Máximo. Avalovara: Tempo, Ser e Linguagem em ‘ O Relógio de Julius Heckethorn’. Eutomia, Recife, v. 1, no 13, p. 261 - 282, 2014.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Trad. de Rogério Fernandes. 3. ed. São Paulo: Editora WMF/ Martins Fontes, 2010.
FERREIRA, Ermelinda. Cabeças compostas: a personagem feminina na narrativa de Osman Lins. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2005.
HAZIN, Elizabeth. A espiral e a página: criação e intertextualidade em Osman Lins. In: HAZIN, Elizabeth. (Org.)O nó dos laços: ensaios sobre Osman Lins. Brasília: Papaterra Editora/ Editora UnB, 2013, p. 69 – 90.
HAZIN, Elizabeth. A ideia insistentemente repetida no velho manuscrito: o colecionamento em Osman Lins. Eutomia, Recife, v. 1, no 13, p. 326–345, 2014.
IGEL, Regina. Osman Lins: uma biografia literária. São Paulo/Brasília: T.A. Queiroz/ INL, 1988.
LINS, Osman. A rainha dos cárceres da Grécia. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
LINS, Osman. Avalovara. Apresentação de Antonio Candido. 5. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
LINS, Osman. Evangelho na Taba. São Paulo: Summus, 1979.
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
PEREIRA, Eder Rodrigues. Da leitura à escritura: matrizes e marginália da estrutura de Avalovara. Manuscrítica, São Paulo , v. 22, p. 159 - 190, 2012.
PEREIRA, Eder Rodrigues. A chave de Jano: os trajetos da criação de Avalovara de Osman Lins. 2009. 309 f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Lembrança de Osman Lins. Eutomia, Recife, v. 1, n. 13, p.177 – 183, 2014.
POMIAN, K. Tempo/temporalidade. Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1993.
POPPER, Karl R. Back to the Pre-Socratics: The Presidential Address. Proceedings of the Aristotelian Society, Oxford, v. 59, p. 1–24, 1959.
RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa (tomo 1). Tradução de Constança Marcondes Cesar. Campinas: Papirus, 1994.
SOARES, Marisa Balthasar. Tempo de Avalovara (as diferentes dimensões temporais no romance de Osman Lins) 2007, 168 f. Tese (Doutorado em Letras) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
WILLEMART, Philippe Marie. Proust e as ciências. Manuscrítica, São Paulo, v. 0, n. 38, p. 92 – 94, 2019.
ZÉRAFFA, Michel. La révolution romanesque. Paris: Ed. 10/18, 1972.



