Quando um haitiano foi à Lua ou uma leitura de País sem chapéu, de Dany Laferrière

Autores

  • Renan Gonçalves Locatelli Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-0739.29.1.35-46

Palavras-chave:

Crioulização, Literatura americana, Diáspora africana

Resumo

O presente artigo realiza uma leitura do livro País sem chapéu (2011), de Dany Laferrière, que trata do retorno do escritor ao seu país de origem, o Haiti. A partir das noções de rizoma (DELEUZE E GUATTARI, 1995), de oroliteratura (MARTINS, 2021), de marronagem (BONA, 2020), de perspectivismo ameríndio (Librandi-Rocha, 2012) e de opacidade, diverso, imaginário e crioulização (GLISSANT, 1995 e 1997), adentramos o universo movediço do mundo dos mortos e do vodu. A construção de uma imagética pautada no binômio País real/ País sonhado desdobra-se na missão do protagonista/autor de acessar aquilo que está opacizado, invisível na neblina noturna sob o domínio dos deuses africanos. É na (com)fusão dos dois universos, na encruzilhada, que Laferrière (2011) encontra a fenda que se abre ao exército de zumbis, haitianos que não se alimentam por meses, mas que, misteriosamente, permanecem vivos e saudáveis. Como em uma pintura naif, somos contaminados por um mundo primeiro, sem intermediários, real; ao mesmo tempo, é pela força do imaginário, no encontro das línguas, que alcançamos o maravilhamento, as potencialidades poéticas e a resistência

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Renan Gonçalves Locatelli, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP

    Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Crítica Literária da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.

Referências

BISHOP, K. The Sub-Subaltern Monster: Imperialist Hegemony and the Cinematic Voodoo Zombie. The Journal of American Culture, Vol. 31, No. 2, 2008, p. 141-152.

BONA, D. T. Cosmopoéticas do refúgio. Tradução de Milena P. Duchiade. Florianópolis: Editora Cultura e Barbárie, 2020.

CARPENTIER, A. Prólogo. In:______. El reino de este mundo. Buenos Aires: Librería del Colegio, 1975, p. 54.

COURCY, N. La traversée du Pays sans chapeau: (Con) fusion des mondes, vérités multiples et identités plurielles. Revue de l’Université de Moncton, 37(1), 2006, p. 225–238. Disponível em: https://doi.org/10.7202/016721ar. Acesso em: 25 mai. 2023.

DAMATO, D. B. Orelhas. In: LAFERRIÈRE, Dany. País sem chapéu. Tradução e posfácio de Heloisa Moreira. São Paulo: Editora 34, 2011.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Rizoma. In:______. Mil Platôs v.1. Tradução de Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. São Paulo: Editora 34, 1995.

GLISSANT, É. Traité du tout-monde. Tradução de Heloisa Moreira. Paris: Gallimard, 1997, p. 248.

GLISSANT, É. Introduction à une poétique du divers. Tradução de Heloisa Moreira. Montreal: Presse de l’Université de Montréal, 1995, p. 53-54.

LAFERRIÈRE, D. País sem chapéu. Tradução e posfácio de Heloisa Moreira. São Paulo: Editora 34, 2011.

LIBRANDI -ROCHA, M. Escutar a escrita: por uma teoria literária ameríndia. O Eixo e a Roda, v. 21, n. 2 (edição especial), 2012. p. 179-202.

MARTINS, L. M. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2021.

MOREIRA, H. Posfácio. In: LAFERRIÈRE, Dany. País sem chapéu. Tradução e posfácio de Heloisa Moreira. São Paulo: Editora 34, 2011, p. 219-239.

PORTAL CONTEMPORÂNE O DA AMÉRICA LATINA E CARIBE. Tontons Macoutes. Disponível em: https://sites.usp.br/portalatinoamericano/espanol-tontons-macoutes#. Acesso em: 15 set. 2023.

STETTLER, S. S. Zumbis: a ficção do Antropoceno. Cadernos PET de Filosofia, v.19, n.1, 2017 (2021), p. 70-90. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/petfilo/article/view/78365/44699. Acesso em: 25 mai. 2023.

Downloads

Publicado

2024-03-06