O presente texto busca discutir como noções geográficas são apresentadas em poemas metalinguísticos da escritora norte-americana Elizabeth Bishop, construindo uma metodologia poética pautada pela cartografia. Para tanto, serão analisados três poemas marcadamente descritivos: “O mapa”, “O monumento” e “A erva”. Nessa leitura, constrói-se também uma aproximação entre a prática de escrita da poeta e o conceito de cartografia apresentado por Deleuze e Guattari em Mil platôs, bem como à proposta de uma análise espacial da literatura apresentada por Foucault na conferência “Linguagem e Literatura”. Além disso, é posto um debate sobre o estatuto epistemológico da poesia descritiva na modernidade, tendo como eixo a indistinção entre alegorias do espaço/da matéria e figurações do sujeito, ou, em sentido mais amplo, o apagamento da separação entre natureza e cultura. Nesse sentido, o que Bishop propõe é a construção de mapas afetivos, nos quais a objetividade seria substituída pela memória e a busca pela experiência. Para fazê-lo, ela se detém nos cenários híbridos, nos quais a contaminação dos elementos mancha os cortes abruptos das representações cartográficas.
Referências
BISHOP, Elizabeth. Poemas escolhidos. Org. BRITTO, Paulo Henriques. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
BRANDÃO, Luis Alberto. Map of waters. In: ALMEIDA, S.; REIS, E.; GONÇALVES, G. (Org.). The art of Elizabeth Bishop. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 2000.
FOUCAULT, Michel. Linguagem e literatura. In: MACHADO, Roberto. Foucault: a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 137-174.
LOMBARDI, Marilyn May. The body and the song: Elizabeth Bishop’s poetics. Carbondale: Southern Illinois University Press, 1995.
SANTIAGO, Silviano. The Status of Elizabeth Bishop Descriptive Poetry. In: ALMEIDA, S.; REIS, E.; GONÇALVES, G. (Orgs.). The art of Elizabeth Bishop. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.