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Artigos

v. 5 n. 2 (2019): Revista Indisciplinar

Um museu de território para Bento Rodrigues

Enviado
abril 1, 2021
Publicado
2019-12-01 — Atualizado em 2019-12-01
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Resumo

O rompimento da barragem de Fundão em Mariana, Minas Gerais, devastou o subdistrito de Bento Rodrigues. Com mais de 80% das edificações destruídas, o vilarejo foi esvaziado e sua população realocada temporariamente na sede do município, de forma dispersa, comprometendo seus vínculos de vizinhança, identidade social e referências culturais. Logo após o desastre, o território foi cercado, seu acesso controlado e a empresa mineradora construiu, de forma autocrática, um dique, inundando parte das propriedades privadas, apesar de protestos da população. A partir de um trabalho realizado com a população atingida percebe-se, contrariamente ao que a empresa responsável e outros atores lhe impuseram, que ela deseja retomar o uso pleno do seu território, dentro dos limites da legislação vigente, implementando ali um Museu do Território, que tem potencial para tornar-se um “sítio de consciência”. Com este intuito, o presente trabalho discute o conceito de Museu de Território, que acompanha as profundas mudanças ocorridas no campo das ciências sociais e a ampliação do conceito de patrimônio. Um Museu de Território almeja, primordialmente, o desenvolvimento dos moradores e a preservação de seus bens culturais, materiais ou imateriais, promovendo o envolvimento continuado da comunidade, sob o viés da valorização patrimonial, cultural e identitária. A proposta dos próprios moradores transformarem o território de Bento Rodrigues em um museu que dê visibilidade às formas de funcionamento e aos impactos da mineração brasileira é tanto uma maneira de resistência na luta pelos seus direitos, como de auxílio no processo de recuperação da comunidade após o desastre.

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