Doutor em Artes pela Universidade de São Paulo. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto. Graduado em Música pela Universidade Federal de Ouro Preto. Autor de trabalhos artísticos produzidos em mídias diversas, tais como composições musicais, desenho de som e trilha sonora para teatro e audiovisual, trabalhos em artes visuais e arte sonora participativa. Membro do Núcleo de Pesquisas em Sonologia (NuSom) da USP
Apresenta-se a noção de mapa sonoro mediante uma composição teórica que desloca o entendimento da prática cartográfica do âmbito da representação para o da operação. Subtraída às pretensões de representação, a prática de mapeamento sonoro pode ser pensada como elaboração de ferramentas tecnopolíticas para a atuação em contextos locais. Tal atuação pode facilitar processos de transculturação aural. Por transculturação aural me refiro a um processo de variação estrutural de sistemas de sentido e valor, experimentado de modo recíproco por duas culturas de escuta postas em contato. O foco do artigo é, portanto, o mapa sonoro como um artifício capaz de transformar padrões e condutas de escuta. A discussão envolve o conceito de sujeito entendido como efeito de práticas de habitação, bem como efeito da performance de ferramentas midiáticas. Neste contexto, apresento uma crítica a dois regimes majoritários de produção e compartilhamento de informação na internet mediante uso de tecnologias digitais, pensados aqui como regimes selfie e hater. Tais regimes são discutidos a partir de caracterizações etológicas da subjetividade, feitas à luz do conceito esquizoanalítico de ritornelo e do ecoepistemológico de ecognose. Apresenta-se, portanto, a categoria de mapa sonoro como um dispositivo tecnopolítico de intervenção crítica no fisiologismo dos regimes hegemônicos de auralidade, de modo a facilitar casos particulares de desterritorialização das práticas de escuta em relação a um regime contemporâneo de controle aural. A tese é a de que tal desterritorialização é condição necessária para um aprimoramento do senso de espaço público e do cuidado com espaços comuns.
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