Este artigo visa abordar as complexidades que envolvem as dinâmicas espaciais contemporâneas – no que concerne os processos de gentrificação de núcleos históricos urbanos – e seus efeitos sobre os territórios face à massificação da indústria do turismo a partir das considerações de Michel Foucault sobre a arte de governar. Tendo como objeto de estudo o núcleo
histórico da Mouraria, em Lisboa, buscamos perceber se – e em que medida – ocorre o avanço das políticas de mercantilização da terra urbana e da moradia e dos processos de “des-re-territorialização” de populações nesta localidade, a partir da identificação e da análise dos mecanismos, táticas e estratégias biopolíticas vinculadas às formas de produção do espaço. A metodologia utilizada foi a cartografia realizada em temporalidades distintas: nos anos de 2012 e 2016. Essa análise em dois tempos propiciou o acompanhamento dos processos que buscamos compreender a partir das reconfigurações de parte do território lisboeta, tendo em vista as relações entre Estado e empresas. Assim, percebemos, de um lado, o incremento de medidas de financeirização do território adotadas pelo governo português – que tiveram como intuito transformar o antigo centro histórico da Mouraria em um espaço atrativo, cosmopolita e multicultural para a indústria do turismo – e, do outro,
o avanço de novas formas de gestão dos espaços da cidade que tiraram partido dessas mesmas alterações. Desse modo, Lisboa vem, cada vez mais, sendo inserida no mercado concorrencial turístico entre cidades mundiais – estratégia central da arte de governar neoliberal no que se refere ao planejamento urbano.