Doutor em Antropologia Social, Universidade de Brasília (UnB). Mestre em Antropologia Social pela UNICAMP com dissertação intitulada “Anomimozegratuitos: a transformação da pessoa em informação e da informação em pessoa”. Pesquisador em Telecomu - nicações junto ao desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Tv Digital. Ex-coordenador de Cultura Digital do Ministério da Cultura. Tradutor de “Futuros Imaginários”, de Richard Barbrook, “O Princípio de Inconexão” de Geert Lovink, “Inventar a Gratuidade” do Coletivo de Artistas, entre outros textos. Colabora com a Rádio Muda, uma rádio livre instalada há 30 anos na Universidade Estadual de Campinas. Desempenha atual - mente a função de Secretário Geral da Associação Brasileira do Rádio Digital (ABRADIG).
Este artigo tem por objetivo contrastar a ideia de troca recíproca de bens culturais face à disponibilização anônima e gratuita de riquezas entre redes distribuídas na Internet. Trata-se de propor um novo híbrido humano-máquina que, impulsionado pelo caráter não rival e a velocidade de circulação de bens culturais, resulta da ação de anonimozegratuitos. O surgimento de um volume enorme de batalhas jurídicas em torno de direitos autorais sobre arquivos de música, vídeo, jogos, etc., ao se limitar a localizar um pólo emissor e outro receptor, separando também criador e consumidor, traduz-se como uma disputa que engloba um mesmo pressuposto onto e epistemológico, a partir da ideia de “indivíduos trocando coisas”. Tal fórmula vem tomando o lugar sobre a reflexão de princípios, certos modos de ser que perderam a eficácia com novos funcionamentos e associações contemporâneas entre técnica e cultura. Assumindo como referência o funcionamento do software BitTorrent na Internet, pretendo apresentar, com anonimozegratuitos, novos modelos, tanto para a forma habitual atribuída à produção autoral individual, quanto para o compartilhamento de bens culturais em sua condição de abundância, não sob as limitações da escassez. Inventando novo sentido social para a circulação de bens culturais, o fenômeno que nos chama a atenção vem ganhando evidência no espaço deixado pela representação do self, de ênfase na propriedade e acúmulo de reconhecimento.
Referências
ALMEIDA, Mauro William Barbosa. “Mentes Coletivas, Redes Generalizadas e a Subversão da Ordem”. Texto revisado para Aula Pública, 2009. Disponível em: http://mwba.wordpress.com Acesso 8 de maio de 2017.
BARBROOK, Richard. Futuros Imaginários – das máquinas pensantes à aldeia global. São Paulo: Peirópolis, 2009.
BATAILLE, Georges. La Part Maudite. Paris: Gallimard, 1973.
BOSMA, Josephine. Nettitudes – Let’s Talk Net Art. Amsterdam: Institute of Network Cultures, 2011.
BAZZICHELLI, Tatiana. Networked Disruption – rethinking oppositions in art, hacktivism and the business of social networking. Aarhus University, 2013.
DÍAZ-ISENRATH, Maria Cecília. Máquinas e pesquis : o estatuto do saber no capitalismo informacional. Tese de Doutorado em Sociologia defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, SP, 2008.
HUI, Yuk. “What is a Digital Object?”. Rev. METAPHILOSOPHY. Vol. 43, Nº 4, July, p. 380-395, 2012.
KLEINER, Dmytri. “Copyfarleft e Copyjustright”. In: BELISÁRIO, A e TARIN, B (Org.). Copyfight, Pirataria e Cultura Livre. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, p. 167-176, 2012.
NIMUS, Anna. “Copyright, Copyleft & Creative Anti-Commons”, 2006. Disponível em: subsol.c3.hu/subsol_2/contributors0/nimustext.html. Acesso 10 maio de 2017.
PASQUINELLI, Matteo. “The Ideology of Free Culture and the Grammar of Sabotage”. In Animal Spirits: A Bestiary of the Commons. Rotterdam: NAi Publishers, 2008.
SIMMEL, Georg. “Digression sur la fidelité et la reconaissance”. In: George Simmel et les Sciences Humaines. Paris: Méridien Clicksieck, p. 43-59, 1992.
SIMONDON, Gilbert. L’individuation psychique et collective à la lumière des notions de Forme, Potentiel et Métastabilité. Paris: Edition Aubier, 2007.
__________ El modo de existencia de los objetos técnicos (Trad. Margarida Martínez e Pablo Rodríguez). Buenos Aires: Prometheu Livros, 2008.
TESTART, Alain. “Échange marchand, échange non marchand”. Revue Française de Sociologie 42, p. 719-748, 2001.
VILLELA, Jorge Luiz Mattar. “A dívida e a diferença - Reflexões a respeito da reciprocidade”. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 2001, Vol. 44, Nº 1, p. 185 –220, 2000.
ŽIŽEK, Slavoj. “Cyberspace, Or, The Unbearable Closure of Being”. The Plague of Fantasies. London: Verso, 1997