O presente artigo apresenta a sistematização e a interpretação de alguns resultados levantados durante o workshop Em Breve Aqui, realizado pelo grupo de pesquisa Indisciplinar, referente aos vazios urbanos no hipercentro de Belo Horizonte. Esses vazios representam a tentativa do capital de desvalorizar o investimento realizado em capital fixo em um tempo passado para, ao destruí-lo, abrir espaço para continuar a ocorrer a acumulação de capital sobre novas tecnologias e novas lógicas de produção. Os vazios podem ser então as marcas visíveis desse processo de destruição criativa, representando uma estratégia do capital para sua contínua acumulação. No caso de Belo Horizonte, os vazios urbanos se conjugam com o cenário de Operação Urbana Consorciada Antônio Carlos Leste-Oeste (ACLO), que podem favorecer ainda mais os ganhos do capital imobiliário por meio das flexibilizações urbanísticas oferecidas. Tais vazios se inserem como espaços de infraestrutura urbana que, passado o período de amortização dos investimentos anteriores, aguardam sua destruição para que se possa investir capital novo naquele lugar. Tendo por base essa lógica, é possível entender a criação e a extinção dos vazios urbanos em um contínuo processo de desterritorialização e reterritorialização que varia de acordo com a dinâmica urbana e as tendências do mercado, sempre orientado numa direção que aponte as oportunidades mais lucrativas.
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