No dia 6 de novembro de 2018, nós da equipe do Indisciplinar recebemos Joceli Andrioli, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), na Escola de Arquitetura e Design (UFMG) para realização de uma entrevista
que abordaria os temas deste número da Revista Indisciplinar: soberania nacional e popular.
Constantes ameaças e ataques concretizados à soberania brasileira são sinalizados pelas ações de privatização de empresas e recursos naturais e estratégicos, políticas de desinvestimento em bancos e empresas estatais, estrangeirização de empresas nacionais (públicas ou privadas), assim como venda de terras para países e grupos estrangeiros, enfraquecimento das políticas de proteção social e reposicionamento geopolítico do país a uma condição subalterna em relação aos países centrais ou hegemônicos. Estes fatores explicitam os interesses e disputas internacionais que, segundo nossa hipótese, desencadearam o Golpe ao Estado Democrático de Direito brasileiro, com evidente ênfase em processos envolvendo o judiciário, o congresso nacional, a mídia hegemônica e pressões explícitas de petroleiras como a anglo-holandesa Royal Dutch Shell.
Sem dúvidas, a construção de alternativas frente ao atual contexto político-econômico suscita como premente o debate sobre geopolítica e soberania nacional nas agendas dos movimentos sociais de escala nacional e internacional, assim como nos grupos acadêmicos de investigação sobre o território.
É nesse sentido que o MAB tem se destacado como um dos principais movimentos populares brasileiros que alavanca fortemente o debate da soberania energética, e por isso, não se abstém da imprescindível leitura geopolítica para compreender e atuar frente à atual conjuntura política nacional e internacional.
Desde a estruturação do movimento na década de 1970 até os anos 2000, as ações do movimento estavam focadas nos enfrentamentos locais em defesa dos direitos dos atingidos por Barragens Hidrelétricas. Posteriormente, o movimento ampliou sua escala de atuação em direção à defesa da soberania energética do país, investigando o funcionamento das empresas do setor, bem como, os regimes de distribuição e concessão da produção.
A luta atual do movimentos pró-soberania popular, principalmente do MAB, pode ser sintetizada no mote “Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular”, que puxou o 8º Encontro Nacional dos Atingidos por Barragens em outubro de 2017, um grande ato em defesa das empresas e recursos naturais nacionais, sediado na cidade do Rio De Janeiro.
Nos últimos 3 anos, imediatamente após ao rompimento da Barragem de Mineração de propriedade da Samarco (empresa fusão da Vale - mineradora multinacional brasileira e uma das maiores operadoras de logística do país - com a BHP Billiton - mineradora e petrolífera anglo-australiana multinacional na Austrália), a ação do MAB é transversal a toda bacia do Rio Doce, incluindo a realização de denúncias em espaços internacionais. A parceria do MAB com diversos atores que lutam em prol de justiça social tem sido fundamental para a garantia de direitos e conquista de assessoria técnica junto aos atingidos, inclusive com autonomia com relação às empresas para apoiar os atingidos. Foi a partir deste contexto que tecemos a aproximação com o movimento, pois esta é a temática de estudo da pesquisadora Paula Guimarães, desde o mestrado e que prossegue agora no doutorado - NPGAU UFMG - e se articula com os programas de extensão Natureza Política, coordenado pela Professora Marcela Brandão, e ao Participa UFMG, coordenado pela Professora Cláudia Mayorga.