É mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
No discurso do jornal O Globo, a ocupação policialmilitar de favelas foi representada como uma guerra – a ‘Guerra do Rio’ –, assim como os seus mapas sobre o tema. O noticiário sobre a ‘Guerra do Rio’ pode ser identificado como um discurso midiático sobre a violência no qual as alteridades entre ‘favela’ e ‘asfalto’ são reforçadas, através da imagem da favela como território da violência no Rio de Janeiro e dos moradores das áreas favelizadas como o ‘outro’. Considerando que a forma que O Globo representou a ocupação policial-militar de favelas através dos seus mapas possui heranças da cartografia jornalística alemã e norte-americana de guerra, vamos interpretar os mapas da ‘Guerra do Rio’ na perspectiva de que são construtores da narrativa de uma guerra contra o ‘outro’. Nessa batalha, o território a ser conquistado é a favela e o território a ser defendido é o ‘asfalto’ assim como os inimigos são os ‘favelados’ e os heróis são as forças policiais e militares. Analisaremos então três mapas que abarcam o período da megaoperação de ocupação policial e militar do Complexo da Penha, Alemão e Vila Cruzeiro, quando os acontecimentos ganharam visibilidade mundial. Reconhecemos que a narrativa construída por esses mapas no discurso do jornal vai da ameaça territorial do Rio de Janeiro até a conquista da favela, quando finalmente chega a ‘pacificação’.
Referências
ALVITO, Marcos; ZALUAR, Alba. Um Século de Favela. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
BARREIRA, Marcos; BOTELHO, Maurílio Lima: O Exército nas ruas: da Operação Rio à ocupação do Complexo do Alemão. Notas para uma reconstituição da exceção urbana. In: BRITO, Felipe; OLIVEIRA, Pedro Rocha de (orgs.). Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
BARRIENDOS, Joaquín. La colonialidad del ver - Hacia un nuevo diálogo visual interepistémico. Nómadas, Bogotá, Universidad Central Bogotá, v. 35, p. 13-29, 2011.
BORIA, Edoardo. Geopolitical Maps: A Sketch History of a Neglected Trend in Cartography. Geopolitics, v. 13, p.278 - 308, 2008.
BRITO, Felipe. Considerações sobre a regulação armada de territórios cariocas. In: BRITO, Felipe; OLIVEIRA, Pedro Rocha de (orgs.). Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
BRITO, Felipe; VILLAR, André; BLANK, Javier. Será guerra?. In: BRITO, Felipe; OLIVEIRA, Pedro Rocha de (orgs.). Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent. New York: Pantheon Books, 1988.
COSGROVE, Denis; DELL DORA, Veronica. Mapping Global War: Los Angeles, the Pacific, and Charles Owens’s Pictorial Cartography. Annal of Association of American Geographers, v. 95, n. 2, p.373- 90, 2005.
FERRAZ, Sonia. Desordem/Ordem na cidade, políticas de segurança e violência. In: RIBEIRO, Ana Clara Torres; EGLER, Tamara Tania Cohen; SÁNCHEZ, Fernanda (orgs.). Política governamental e ação social no espaço. 1.ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, p. 167-174, 2012.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.
________________. A Ordem do Discurso. (Trad. Laura de Almeida Sampaio) São Paulo: Loyola, 1998.
________________. As Palavras e as Coisas. (Trad. Salma Tannus Muchail) São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GREEN, David. Journalistic Cartography: Good or Bad? A Debatable Point. The Cartographic Journal, v. 36, n. 2, p. 141-153, 1999.
HERB, Henrik. Persuasive Cartography in Geopolitik and National Socialism. Political Geography Quarterly, v.8, n.3, p. 289-303, 1989.
LEITE, Márcia Pereira. Entre a ‘guerra’ e a ‘paz’: Unidades de Polícia Pacificadora e gestão dos territórios de favela no Rio de Janeiro. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 7, p. 625-642, 2014.
MACHADO DA SILVA, Luiz Antonio. ‘Violência urbana’, segurança pública e favelas - o caso do Rio de Janeiro atual. Caderno CRH, Salvador, v. 23, n. 59, p. 283-300, maio/ago. 2010
MISSE, Michel. Sobre a acumulação social da violência no Rio de Janeiro. Civitas, Porto Alegre, v. 8, n. 3, p. 371-385, set./dez. 2008.
MONMONIER, Mark. Maps with the news: the development of American journalistic cartography. Chicago: University of Chicago Press, 1989.
________________. How to lie with maps. Chicago: University of Chicago Press, 1991.
NOVAES, André Reyes. Fronteiras Mapeadas - Geografia Imaginativa das Fronteiras Sul-Americanas na Cartografia da Imprensa Brasileira. Tese (Doutorado em Geografia) - Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.
___________________. Geopolítica e Imprensa: Richard Edes Harrison e o Papel dos Mapas Midiáticos na História da Geopolítica. Revista Geonorte, v. 7, p. 131-146, 2013.
OLIVEIRA, Pedro Rocha de. Golpes de vista. In: BRITO, Felipe; OLIVEIRA, Pedro Rocha de (orgs.). Até o último homem: visões cariocas da administração armada da vida social. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2013.
RISTOW, Walter. Journalistic Cartography. Surveying and Mapping, v. 17, n. 4, p.369 - 390, 1957.
RONDELLI, Elizabeth. Mídia e violência: ação testemunhal, práticas discursivas, sentidos sociais e alteridade. Comunicação e Política, n.3. Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, p.141-160, 1997.
SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
TEIXEIRA, Eduardo. Unidades de Polícia Pacificadora: O que são, a que anseios respondem e quais desafios colocam aos ativismos urbanos? (1ª parte). Passa Palavra, 2010. Disponível em: <http://passapalavra.info/2010/06/25554>. Acesso em: 26/02/2014