MORTE E MÚSICA

MANIFESTAÇÕES ANTÍPODAS DOSILÊNCIO EM VLADIMIR JANKÉLÉVITCH

Autores/as

Palabras clave:

Silêncio, Morte, Música, Indizível, Inefável

Resumen

Uma das respostas possíveis ao inexprimível é, sem dúvida, o silêncio. Contudo, se o inexprimível se revela, segundo Jankélévitch, em dois níveis antípodas, o inexprimível pela esterilidade (indizível) e o inexprimível pela fecundidade (inefável), os silêncios também se distinguiriam de acordo com sua pertença a um desses níveis. Este artigo pretende examinar os silêncios que se associam, respectivamente, à manifestação por excelência do indizível, a morte, e a uma manifestação privilegiada do inefável, a música. Assim, primeiramente, serão examinados, no âmbito da morte, o mutismo do morto, o vazio de uma filosofia sobre a morte e o silêncio diante do moribundo e do cadáver. Em segundo lugar, serão analisados, no tocante à arte sonora, o silêncio como reação à inefabilidade musical, o silêncio identificado à própria música e os silêncios que podem anteceder, integrar e suceder uma composição musical. A partir desse percurso, discutiremos o problema do silêncio absoluto, o parentesco entre as experiências musical e mística, a possibilidade de aproximação dos silêncios referentes aos dois níveis do inexprimível, assim como as diferenças qualitativas entre alguns dos silêncios identificados.

Biografía del autor/a

  • Clovis Salgado Gontijo, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia

    Após completar a graduação e o mestrado em Música (Bacharelado em Piano pela Faculdade Santa Marcelina e Master's in Music/Piano Performance pela Texas Christian University), Clovis Salgado Gontijo Oliveira migrou para a Filosofia, com o objetivo de dedicar-se à área da Estética. Bacharelou-se em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) e, graças ao apoio da agência chilena Conicyt, doutorou-se em Filosofia com menção em Estética e Teoria da Arte pela Faculdade de Artes da Universidade do Chile (2014). Desde agosto de 2011 atua como professor assistente da FAJE, tendo sido incorporado ao quadro de professores do Programa de Pós-graduação em Filosofia dessa faculdade em fevereiro de 2016. Lidera o Grupo de Pesquisa interdisciplinar "Mística e Estética", cadastrado pelo CNPq. Publicou sua tese, em versão abreviada (Ressonâncias noturnas: do indizível ao inefável), pela editora Loyola (2017) e traduziu e prefaciou, pela editora Perspectiva, duas obras de Vladimir Jankélévitch: A música e o inefável (2018) e Em algum lugar do inacabado (2021). Participou do simpósio Vladimir Jankélévitch in the 21st Century (Sydney, 2018), partilhando sua experiência como tradutor do filósofo e apresentando um trabalho sobre a possibilidade de uma espiritualidade não religiosa no pensamento jankélévitchiano. Integra o Círculo Susanne K. Langer, grupo internacional de estudo da obra da filósofa estadunidense, tendo participado do evento Feeling, Form, Mind: a Conference on the Thought of Susanne K. Langer (Frankfurt, 2022), no qual apresentou comunicação sobre as possíveis interseções entre as obras de Langer e Nise da Silveira. Além de seus trabalhos acadêmicos, dirigidos, sobretudo, aos pensamentos de Jankélévitch e Langer, à Filosofia da Música, às poéticas noturnas, aos limites da linguagem discursiva e às interseções entre Mística e Estética, procura aplicar seus conhecimentos em projetos ligados à formação de público e à arte-educação. Publicou, em outubro de 2020, o livro de contos “L” de Diferença, que, voltado para o público jovem, aborda os temas da diferença, do bullying e da discriminação a partir de elementos da filosofia, da arte e da espiritualidade.

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Publicado

2025-06-23

Número

Sección

Artigos

Cómo citar

MORTE E MÚSICA: MANIFESTAÇÕES ANTÍPODAS DOSILÊNCIO EM VLADIMIR JANKÉLÉVITCH. Revista Kriterion, [S. l.], v. 65, n. 159, p. e-45462, 2025. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/kriterion/article/view/45462. Acesso em: 7 dec. 2025.