Literatura de testemunho, setenta anos depois
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-3053.13.25.145-158Palavras-chave:
Literatura de testemunho, Trauma, Noemi JaffeResumo
Lili Jaffe, Noemi Jaffe e Leda Cartum. Sobrevivente da Shoah, filha e neta. A publicação, em 2012, de O que os cegos estão sonhando? remexe, ainda uma vez, no delicado território do trauma resultante da tragédia e suas repercussões nos descendentes das vítimas; aqui, segunda e terceira gerações, de certa forma condenadas a viver sob o peso do trauma, da família traumatizada. A memória da vítima, registrada em forma de diário - mas, em desacordo com o usual, com o esperado pelo leitor, diário registrado após os fatos -, recoloca a questão da fidedignidade, da confiabilidade da memória, da relação entre os fatos “como ocorreram”, e seu retrabalho pelas lembranças, pelos desejos, pelos relatos de outros sobreviventes. Além do diário de Lili Jaffe, o livro contém reflexões de sua filha Noemi Jaffe e também um capítulo escrito por sua neta, Leda Cartum. O objetivo deste artigo é refletir sobre os desdobramentos da chamada “Literatura de testemunho”, setenta anos depois da barbárie nazista, bem como sua ressignificação pelos descendentes, que não viveram os fatos mas são, de alguma forma, afetados pela simples presença, efetiva ou simbólica, da vítima. Propõe-se, ainda, a conveniência da adoção, para apreciação de obras da “Literatura de testemunho”, do conceito de “gerações de escritos”, em função de sua distância temporal em relação aos fatos.
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