Comida e memória no diário de Lili Jaffe
DOI:
https://doi.org/10.35699/1982-3053.2023.47982Palavras-chave:
Lili Jaffe, Literatura de testemunho, ComidaResumo
Este artigo discute, na obra O que os cegos estão sonhando (2012), as representações em torno da comida na ativação da memória e na preservação de vínculos afetivos apesar do trauma. Tendo como cerne o diário de Lili Jaffe (1926-2020) escrito após sua prisão em Auschwitz, o livro também simboliza o encontro entre gerações, contando com textos de sua filha, Noemi Jaffe, e sua neta, Leda Cartum. No diário, a sobrevivente descreve a fome e a má qualidade da “ração” distribuída às prisioneiras, bem como o trabalho na cozinha de Auschwitz, quando a comida, trocada por roupas ou contrabandeada às escondidas para judeus famintos, institui relações de camaradagem e subversão. As dificuldades alimentares mudam drasticamente após a libertação das prisioneiras. Na condição de exiladas de guerra, Lili e suas “irmãs de campo” (SAIDEL, 2009) são presenteadas em cidades europeias com doces diversos, que podem comer até enjoar. Na privação ou no excesso, a comida é elaborada tanto como elemento desencadeador da criação de linguagem quanto como bem cultural, perpassando opressões políticas, luta por sobrevivência, diferenças e pertencimentos culturais. Por fim, em seu preparo e partilha, configura-se como um modo de manter a comensalidade judaica viva.
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Referências
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