Peleja da informação com a leitura
um jornal, uma comunidade rural e suas representações sociais sobre o Semiárido cearense
DOI:
https://doi.org/10.35699/f3wvzy26Palavras-chave:
informação – aspectos simbólicos, leitura e apropriação, relações de poder, Semiárido cearense – cultura de convivência, Teoria das Representações SociaisResumo
Problematiza as representações sociais sobre o Semiárido cearense e seus sujeitos mobilizadas em reportagens especiais produzidas entre 1998 e 2020 pelo antigo núcleo investigativo do jornal fortalezense O Povo, nomeadas cadernos especiais, realçando sistemáticas de poder e sentido que integravam o modus operandi da editoria e sua estética. Diante disso, objetiva compreender e interpretar a interação, por via da leitura, de um grupo de camponeses ligados a uma comunidade rural situada predominantemente em Independência, Ceará, Brasil, com as representações em questão, visando confrontar as elaborações simbólicas mediadas nos cadernos com as apropriações dos camponeses, recrutados por remeterem ao universo designado pelo jornal. De modo específico, (a) identifica as representações sobre o referido Semiárido e seus sujeitos materializadas nos cadernos especiais, a partir do estudo de seu processo de produção; (b) compreende como a comunidade rural constitui alteridade, tendo por base as representações mobilizadas cotidianamente por seus membros acerca de si e de seu contexto; (c) interpreta os sentidos provocados pela leitura dos camponeses, destacando as marcas socioculturais provenientes da alteridade desses sujeitos; e (d) analisa como os sentidos provocados pela leitura dialogam com as representações da editoria, ressaltando convergências e divergências decorrentes das formas de apropriação e reconhecimento dos camponeses com os cadernos especiais. Pertencente ao campo da Ciência da Informação, com enfoque em estudos de sujeitos socialmente localizados e de mediação em favor do compartilhamento de saberes, seu fundamento está na interdisciplinaridade construída entre a Teoria das Representações Sociais; o conceito de leitura como produção de sentidos; a ideia de informação como processo hermenêutico e intersubjetivo; e a noção de cultura como ordenação e exercício de poder. Dotada de natureza exploratória e qualitativa, com uso do método hermenêutico-dialético, contemplou a análise de dois universos – o da produção dos cadernos e o da comunidade rural –, delimitados e conduzidos mediante a finalidade da pesquisa. No ambiente do jornal, reuniu sete profissionais que participaram da produção dos cadernos, com aplicação de entrevistas semiestruturadas que permitiram entender os meandros da editoria, demarcar relações de poder e identificar as representações sociais. No meio rural, envolveu imersão etnográfica na Escola Família Agrícola Dom Fragoso – instituição situada em Independência, corresponsável por formar identidades locais com o Semiárido e estruturar a comunidade –, utilizando-se de observação participante e entrevistas semiestruturadas para conhecer o contexto e organizar o grupo leitor composto por dez camponeses. Contemplou ainda ações de leitura metodologicamente provocada, com administração de uma amostra de quatro cadernos especiais aos camponeses, selecionados de um total de 35 cadernos, cujos critérios foram: referência ao cotidiano dos sujeitos; ênfase na fase estruturada da editoria; e diversificação da amostra, com prioridade às publicações mais recentes. As leituras geraram apreensões de sentido que ora convergiram com os direcionamentos simbólicos da editoria, ora divergiram desses, causando negociações de apropriação e reconhecimento em relação à amostra. Nas intervenções leitoras, destacaram-se saberes, críticas e julgamentos que, por serem compartilhados, evidenciaram conflitos de alteridade. Conclui considerando que o fator gregário das experiências informacionais e leitoras não acontece passivamente, mas negociado com crenças e ordenações culturais, enfatizando a condicionalidade das construções simbólicas que favorecem o protagonismo dos sujeitos.
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