A definição de poesia de Mário de Andrade

a entrega ao outro e à paisagem na obra poética do leitor de Unamuno

Autores

Palavras-chave:

Mário de Andrade, paisagem, definição de poesia, Michel Collot, Miguel de Unamuno

Resumo

Nos poemas de Mário de Andrade, o eu lírico mistura-se à paisagem de seu país, buscando compreender o outro e a si. O movimento de entrega se assemelha ao gesto que dá base à criação poética, construída por meio da saída de si e do encontro com o mundo, como a entende Michel Collot. Com esse pressuposto, o objetivo do artigo é demonstrar, a partir da retomada do estudo de diferentes partes da obra poética de Mário de Andrade, a entrega à paisagem como traço definidor da poesia do modernista. Além disso, o ensaio demonstra que a obra Del sentimiento trágico de la vida, de Miguel de Unamuno, lida por Mário de Andrade, é uma das matrizes de sua concepção de poesia, já que a entrega amorosa ao outro, encenada nos versos, aproxima-se de reflexões desenvolvidas pelo teórico e poeta espanhol. Para tanto, o trabalho se debruça sobre a poesia da fase inicial e da fase madura do escritor, já que a entrega à paisagem e ao outro está em Pauliceia desvairada (1922) e no livro póstumo Lira paulistana (1945, publicação póstuma no ano seguinte), levando em consideração, ainda, livros que se inserem entre uma e outra obra, como Clã do jabuti (1927), Remate de males (1930) e Livro azul (1941), em que também aparece tematizado o encontro do eu e do mundo, base da definição do lírico.

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Publicado

2024-07-31

Edição

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Artigos