Os cemitérios autárquicos em poemas de João Cabral de Melo Neto

Auteurs

DOI :

https://doi.org/10.17851/2358-9787.29.2.37-58

Mots-clés :

poesia brasileira, João Cabral de Melo Neto, cemitérios, discussão de imagem

Résumé

Resumo: João Cabral de Melo Neto tematizou a morte em muitos de seus poemas, além do conhecido Morte e vida severina. É notória a presença de poemas sobre a morte individual de artistas e toureiros; a morte coletiva fortemente ligada à exploração do indivíduo na sociedade latifundiária do nordeste brasileiro; a morte conceitual, de veio metapoético, encontrada na seção “A indesejada das gentes”, da obra Agrestes. No âmbito dos muitos poemas que tematizam a morte, encontram-se aqueles que apresentam a imagem do cemitério como espaço significativo para a compreensão dos discursos sobre a recorrente indigência nordestina. Este trabalho pretende compreender o modo de problematização da imagem cemiterial do nordeste do Brasil e as estratégias poéticas empregadas para dar a ver os cemitérios e seus alicerces sustentados em fortes desigualdades sociais. Para isso, propõe-se o estudo de um mecanismo de composição poética baseado na “discussão de imagens”, conforme o próprio Cabral o nomeou, e entendido por Benedito Nunes (1971, p. 109) como “textura prismática da composição”. De acordo com este procedimento, o ato compositivo de João Cabral envolveria seleção e desdobramento de uma imagem em várias outras formas e imagens, objetivando acréscimo de perspectivas, maior clareza, concreção e profundidade significativa da linguagem. Espera-se, após estudo da imagem dos cemitérios nordestinos, fundamentar a hipótese de que Cabral, na prática de retomadas de temas e imagens, apresenta um projeto poético de denúncia das formas de fortalecimento da indústria da seca no nordeste do Brasil.

Palavras-chave: poesia brasileira; João Cabral de Melo Neto; cemitérios; discussão de imagem.

 

Biographie de l'auteur

  • Fabiane Renata Borsato, Universidade Estadual "Júlio de Mesquita Filho"- Faculdade de Ciências e Letras- Câmpus de Araraquara

    é docente do Departamento de Literatura e do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara, é docente colaboradora do ILCML - Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade do Porto. Leciona disciplinas do campo da Teoria da Literatura. É pesquisadora das áreas de teoria e crítica do texto literário, poesia moderna e contemporânea, metalinguagem poética. Atua como membro do grupo de pesquisa Teoria do Texto Poético da Anpoll.

Références

ADOUE, S. B. O fulgor de Canudos. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, v. 10, n. 119, p. 1-9, 2011.

BARBOSA, J. A. A imitação pela forma: uma leitura de João Cabral de Melo Neto. São Paulo: Duas Cidades, 1975.

BORSATO, F. R. Morte na antilírica de João Cabral de Melo Neto. Studia Iberystyczne, Kracóvia, v. 9, p. 141-153, 2010.

FACÓ, R. A emigração em massa. In: ______. Cangaceiros e fanáticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 21-29.

FERRAZ, E. Belo, bula. In: MELO NETO, J. C. de. A educação pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 9-17.

GRUPO µ. Retórica da poesia: leitura linear, leitura tabular. Tradução de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Cultrix: Edusp, 1980.

LEITE, S. U. João Cabral e a ironia icônica. In: ______. Crítica de ouvido. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 79-88.

MELO NETO, J. C. de. Obra completa. 3. ed. Organização de Marly Oliveira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.

NUNES, B. João Cabral de Melo Neto. Petrópolis: Vozes, 1971.

SECCHIN, A. C. João Cabral de Melo Neto: uma fala só lâmina. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

Téléchargements

Publiée

2020-06-28

Numéro

Rubrique

Dossiê: João Cabral de Melo Neto, 100 anos