A escritura da pintura

Poder e retrato em A menina morta (1954), de Cornélio Penna

Auteurs

Mots-clés :

Cornélio Penna; escritura; retrato; subjetivação; poder.

Résumé

O artigo procede a uma leitura do romance A menina morta (1954), de Cornélio Penna, partindo da hipótese da centralidade do retrato da menina morta na narrativa e do impacto das imagens em sua configuração romanesca, tangenciando as relações entre pintura e literatura que, de resto, atravessam a própria biografia do escritor. Analisa-se o retrato como mecanismo de legitimação do poder senhorial pelo efeito de subjetivação que perpetua, valendo-se, para tanto, das análises de Burke e Kantorowicz acerca dos usos da imagem do rei nas monarquias europeias. Por fim, apresenta-se a decriptação do enigma da menina morta pela irmã, Carlota, que suspende seu efeito para revelar a violência sobre a qual se fundamenta o poder senhorial da fazenda do Grotão, em movimento análogo ao da própria escritura corneliana ao colocar em perspectiva o quadro da catástrofe original da história brasileira.

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Publiée

2024-06-03