Corpo, culpa e vergonha em Mundos mortos, de Octávio de Faria

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DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.29.2.235-251

Parole chiave:

literatura brasileira, Octávio de Faria, corpo, homoerotismo, catolicismo

Abstract

Resumo: O presente artigo analisa o romance Mundos mortos, de Octávio de Faria, publicado em 1937, rotulado pela crítica como literatura intimista, abordando personagens adolescentes e seus dilemas sobre sexualidade em torno de um local de homossociabilidade, o colégio de padres católicos. O que chama atenção na produção desse autor, e está expresso nos textos ficcionais, nos dilemas de seus personagens, em seu diário e em suas correspondências, é o conflito constante entre o fato deste ser católico fervoroso e, ao mesmo tempo, haver a presença marcante de um homoerotismo, o qual está diretamente ligado à produção dos corpos dos personagens. Esses corpos dóceis, ou rebeldes, estranhos, diferentes colocam-se em posições negativas com relação ao padrão heteronormativo de seu tempo, deparando-se com os sentimentos de culpa e vergonha constantes, instituídos pelo catolicismo. Analisa-se de que modo o escritor representou o corpo diante dos dogmas católicos, a representação da homossexualidade e como isso transparece em seu romance, lançando mão de teóricos como Eve Kosofski Sedgwick, Michel Foucault e Judith Butler.

Palavras-chave: literatura brasileira; Octávio de Faria; corpo; homoerotismo; catolicismo.

Abstract: This article analyzes Octávio de Faria’s novel Mundos mortos, published in 1937, critically labeled as intimate literature, about adolescent characters and their dilemmas around sexuality at a homosocial place, the college of Catholic priests. What draws attention in this author’s production, and is expressed in the fictional texts, the dilemmas of his characters, his diary and his correspondences, is the constant conflict between him being a fervent Catholic and, at the same time, having the presence striking feature of homoerotism, which is directly linked to the production of the bodies of the characters. These docile, or rebellious, strange, different bodies put themselves in negative positions with respect to the heteronormative pattern of their time, encountering the constant feelings of guilt and shame instituted by Catholicism. Analyzes how the writer represented the body in the face of Catholic dogma, the representation of homosexuality, and how this shows in his novel, using theorists such as Eve Kosofski Sedgwick, Michel Foucault and Judith Butler.

Keywords: Brazilian literature; Octávio de Faria; body; homoeroticism; catholicism.

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Pubblicato

2020-06-28