Horizontes Epistemológicos das Humanidades: Pesquisa, Método e Estado

09-07-2025

Com o intuito de incentivar a produção acadêmica no âmbito das ciências do Estado, a Equipe Editorial da Revista de Ciências do Estado (REVICE) torna pública a presente chamada, referente à composição do dossiê do volume 10, número 2, ano 2025. O tema do dossiê desta edição será “HORIZONTES EPISTEMOLÓGICOS DAS HUMANIDADES: PESQUISA, MÉTODO E ESTADO”.

 

            A epistemologia, nascida das raízes etimológicas gregas ἐπιστήμη (conhecimento) e λόγος (razão), convida-nos a investigar os fundamentos, os limites e as disputas que moldam o saber. Assim, a epistemologia pode ser entendida como a investigação sobre o próprio conhecimento: suas possibilidades, fundamentos e limites. Podemos procurar entender, em sentido hodierno, a epistemologia como manifestação das disputas que atravessam o saber e refletem diferentes visões de mundo - Weltanschauungen. Sabemos que o conhecimento é o locus humano por excelência, inerente à nossa existência e, se o conhecimento parte de nós, da pluralidade de cada ser humano e de cada cultura, ele é, por excelência, plural. Quando falamos de ciências humanas, o sujeito torna-se também objeto, e esse movimento constitui o mais alto grau de complexidade que exige um esforço contínuo, um campo inesgotável de saber. As humanidades podem ser lidas como disciplinas separadas, como a Antropologia, a História, as Ciências Sociais, a Ciência Política, mas um olhar crítico e atento, um olhar filosófico, portanto, revela seu caráter essencialmente uno: a humanidade em toda sua complexidade. Mas como conhecer aquilo que somos?

A busca pelo essencial, universal e verdadeiro, através da razão, é o grande desafio das humanidades. A ciência e a filosofia são um esforço contínuo para desvendar os “comos” e os “porquês” da existência humana, do indivíduo às estruturas coletivas, do micro ao macro. Trata-se do esforço infinito de dar novas respostas e revelar novos sentidos ou, ainda mais significativo, novas perguntas.

As perguntas são o movimento das humanidades, o impulso do conhecimento. E, quando direcionadas para pensar e conhecer o Estado, abre-se um leque de contradições e, mais do que isso, nos vemos como em um campo de debate quase belicoso. As ciências do Estado são as humanidades em seu mais alto grau de disputas ideológicas, interpretativas e epistemológicas, onde as verdades se confrontam e se reinventam. E é essa natureza de um campo de conhecimento inesgotável e paradoxal que queremos trazer à luz. Trata-se de transformar as diferenças em identidade e de acolher contradições para um espaço que evite fragmentação. Trata-se de um espaço de projetos. Diante disso, perguntamos:

O Estado é um mecanismo de liberdade ou de violência? Quantas ideias de Estados são possíveis? Quantas realidades coexistem dentro de um mesmo Estado? Como comparar Estados hegemônicos e periféricos? Há algo para além do poder estatal? De quantas formas é possível legitimar o poder do Estado? E de quantas é possível condená-lo? Qual a relação entre ética, justiça, dignidade humana e as distintas configurações do presente e do passado? Existe um método mais correto para pensar e conhecer o Estado? Quantas vias são necessárias para compreender uma realidade tão complexa? O que a História, a Geografia, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia e tantas outras ciências humanas nos ensinam sobre o Estado? Plataformas digitais, inteligências artificias e neurociências desafiam as epistemologias tradicionais do Estado? O que o encontro entre diferentes culturas pode nos mostrar sobre as nossas próprias maneiras de nos organizarmos socialmente? O Estado é o “fim” da história? Qual a relação entre História e Estado? É possível imaginar um Estado além do capitalismo? Ou ele está condenado a este? O Estado é obstáculo ou estímulo para um mundo melhor?

Não pretendemos oferecer respostas definitivas, mas abrir caminhos: integrar métodos das ciências humanas para analisar o Estado, questionar paradigmas à luz de novas tecnologias e perspectivas interculturais e projetar cenários nos quais as diferenças alimentem a inovação, não a divisão. Consiste no eterno problema humano de pensar a organização política ideal e apostamos que, explorando os horizontes epistemológicos das humanidades, talvez seja possível compreender nossos limites e possibilidades. Este é um convite para isso.

Este número engloba, portanto, trabalhos sobre: Estado; Epistemologia; Liberdade; Ciências Humanas; Violência; Cultura; Desenvolvimento humano; Política; Antropologia; Sociologia; Filosofia; História; Geografia; Ciências Sociais; Epistemologia das Humanidades; Pluralismo Epistemológico; Disputas Epistemológicas; Teorias do Conhecimento; Interdisciplinaridade; Métodos de Pesquisa; Conhecimento e Poder; Teoria do Estado; Formas de Estado; Soberania; Governamentalidade; Estado e Democracia; Autoritarismo; Estado e Tecnologia; Estado e Direitos Humanos; Estado, Afetos e Religião; Humanidades Críticas; História das Ideias Políticas; Imaginação Política; Cultura Política; Geopolítica; Cultura Digital; Neurociências e Política; Estado e Algoritmos; Pós-Humanismo; Novas Mídias e Subjetividade; Interculturalidade; Dignidade Humana; Futuro do Estado; Imaginação Social; Utopias Políticas; Alternativas Civilizatórias; Filosofia da História.

 

 

I - A publicação da REVICE dar-se-á em fluxo contínuo.

 

II – A REVICE receberá trabalhos para o presente do dossiê a partir da data de sua publicação até 14 de setembro de 2025.

 

III - Os trabalhos cujo processo de avaliação e correção não se encerrarem até 31 de dezembro de 2025 serão publicados nos números seguintes da REVICE.

 

IV - Todas as políticas de submissão da REVICE, bem como suas políticas editoriais, se encontram em seu site oficial.

 

V – Serão aceitos apenas artigos, ensaios, resenhas, traduções inéditas e memórias históricas.

 

VI – Os trabalhos de temática livre continuam a ser aceitos pela REVICE.

 

 

 

Belo Horizonte, 09 de julho de 2025.

 

Theo Augusto Apolinário Moreira Fonseca

Editor-chefe da REVICE

 

Lucas Antônio Nogueira Rodrigues

Editor-chefe Adjunto da REVICE