Olhando, desejando, in-corporando

cachimbos de barro na construção de comunidades diaspóricas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31239/vtg.v16i2.38614

Palavras-chave:

escravidão urbana, cachimbos de barro, comunidades diaspóricas, agência de objetos, arqueologia histórica

Resumo

Este artigo analisa cachimbos de barro recuperados em escavações arqueológicas realizadas em áreas urbanas, rurais, e em espaços públicos do Rio de Janeiro com presença de africanos escravizados, entendendo esses artefatos como agentes sociais. Através de uma abordagem centrada exclusivamente nesses objetos, considera, fundamentado em Gell (1998) e Heideger (2012), que a exuberante decoração que lhes foi aposta capturava a atenção dos que os viam, seduzindo-os para o projeto social ao qual eles estavam vinculados. No caso, a construção de comunidades diaspóricas, na circunstância do desenraizamento, dispersão e desagregação promovidos pelo deslocamento forçado de africanos dos seus lugares de origem para um destino novo e desconhecido. São analisados diferentes referenciais étnicos e culturais presentes nos motivos decorativos dos cachimbos. Eles apontam não apenas as múltiplas proveniências dos que aqui chegaram, mas também a incorporação de elementos estéticos de origem europeia, amplamente utilizados pela sociedade envolvente. Desse processo de hibridização resultou a criação e compartilhamento de novos referenciais, próprios das comunidades diaspóricas que aqui se formaram.

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Zahar.

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Publicado

2022-07-27

Como Citar

Souza, M. A. T. de, & Lima, T. A. (2022). Olhando, desejando, in-corporando: cachimbos de barro na construção de comunidades diaspóricas . Vestígios - Revista Latino-Americana De Arqueologia Histórica, 16(2), 7–27. https://doi.org/10.31239/vtg.v16i2.38614