Paisagens noturnas: ficção, lenda e história nas narrativas sertanejas de Coelho Neto

Autores

  • Luciana Murari Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

DOI:

https://doi.org/10.17851/2317-2096.25.1.27-49

Palavras-chave:

Coelho Neto, paisagem, regionalismo literário, identidade nacional brasileira, sobrenatural

Resumo

Este artigo analisa a ficção sertaneja de Coelho Neto, buscando observar a formação das convenções temáticas e estéticas da literatura regionalista brasileira, a partir das imagens noturnas inseridas em sua prosa. O estudo considera que estas se difundem, na obra ficcional do escritor, segundo as perspectivas da descrição paisagística e das narrativas sobrenaturais. Explorando o tema da paisagem, constatamos que o descritivismo é uma dimensão fundamental dos seus textos, sobretudo por definirem sensibilidades em relação à natureza e evocarem a memória sensorial do ambiente físico. As narrativas sobrenaturais incorporam, por sua vez, alguns temas fundamentais de sua literatura rural: a sexualidade, a exploração econômica do território e a miscigenação, temas convertidos em imagens da formação do Brasil a partir da colonização escravista. Concluímos que, mesclando imaginação e história, o escritor criou uma representação original da trajetória da sociedade brasileira ao longo do tempo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Luciana Murari, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Luciana Murari possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1992), mestrado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2002) e pós-doutorado em história na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, 2006). Atualmente, é professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e do Programa de Pós-graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência nas áreas de História e de Literatura, com ênfase em História cultural, política e intelectual do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira, história intelectual do Brasil e pensamento social brasileiro. É autora dos livros: "Brasil, ficção geográfica: ciência e nacionalidade no país d'Os Sertões'" (São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: Fapemig, 2007) e "Natureza e cultura no Brasil" (São Paulo: Alameda, 2009), de capítulos de livros e de diversos artigos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros. Desde março de 2013 é bolsista de produtividade de pesquisa do CNPq.

Referências

BAGULEY, David. Le naturalisme et ses genres. Paris: Nathan, 1995.

BENJAMIN, Walter. O narrador – Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. v. 1. 8. ed. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012. p. 213-240.

BERQUE, Augustin. La pensée paysagère. Paris: Archibooks, 2008.

CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. p. 140-161.

COELHO NETTO. A conquista. 2. ed. Porto: Chardron, 1913. [1ª ed. 1899].

COELHO NETTO. Banzo. Porto: Lello & Irmão, 1912.

COELHO NETTO. Compendio de litteratura brasileira segundo o programma do Gymnasio Nacional. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1905.

COELHO NETTO. Miragem. 4. ed. Porto: Chardron, 1926. [1ª ed. 1895].

COELHO NETTO. Praga. Rio de Janeiro: J. Cunha, 1890.

COELHO NETTO. Rei Negro. Romance bárbaro. 2. ed. Porto: Chardron, 1926. [1ª ed. 1914].

COELHO NETTO. Sertão. Porto: Lello & Irmão, 1933. [1ª ed. 1896].

COELHO NETTO. Treva. 3. ed. Porto: Chardron, 1924. [1ª ed. 1905].

COELHO NETTO, Paulo. Coelho Netto. Rio de Janeiro: Valverde, 1942.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. Tradução Hélder Godinho. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

GRIVEL, Charles. Fantastique-fiction. Paris: Presses Universitaires de France, 1992.

HALBWACHS, Maurice. La topographie légendaire des évangiles en Terre Sainte. Paris: Presses Universitaires de France, 2008.

HEUSSER, Calvin. Bogs. In: HARRISON, Stephan; PILE, Steve; THRIFT, Nigel. Patterned Grounds. Entanglements of Nature and Culture. Londres: Reaktion, 2004. p. 146-148.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 74-89.

ISER, Wolfgang. O fictício e o imaginário. Perspectivas de uma antropologia literária. Tradução Johannes Kretschmer. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996.

JAKOB, Michael. Le paysage. Gollion: Infolio, 2002.

JOURDE, Pierre. L’alcool du silence. Sur la décadence. Paris: Honoré Champion, 1994.

LIMA, Luís Costa. Sociedade e discurso ficcional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

MACNAGHTEN, Phil. Trees. In: HARRISON, Stephan, PILE, Steve, THRIFT, Nigel. Patterned Grounds. Entanglements of Nature and Culture. Londres: Reaktion, 2004. p. 232-234.

MURARI, Luciana. Uma geografia literária do Brasil. Ipótesi, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 35-50, jan.-jun. 2014.

MURARI, Luciana. Natureza e cultura no Brasil. 1870-1922. São Paulo: Alameda, 2009.

PAES, José Paulo. O art-nouveau na literatura brasileira. In: PAES, José Paulo. Gregos e baianos. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 64-80.

PAES, José Paulo. Canaã e o imaginário modernista. São Paulo: Edusp, 1992.

Downloads

Arquivos adicionais

Publicado

2015-11-12

Como Citar

Murari, L. (2015). Paisagens noturnas: ficção, lenda e história nas narrativas sertanejas de Coelho Neto. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 25(1), 27–49. https://doi.org/10.17851/2317-2096.25.1.27-49

Edição

Seção

Dossiê - O Noturno na Literatura e nas Artes