Representando a resistência negra no Brasil: originalidade e limites de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves

Autores

  • Gabriel Estides Delgado Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.17851/2317-2096.28.4.65-85

Palavras-chave:

Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves, literatura afro-brasileira contemporânea, resistência cultural, representação

Resumo

Com uma poética calcada no transplante cultural africano, Ana Maria Gonçalves leva a cabo, em Um defeito de cor, a tarefa titânica de recontagem da resistência negra no país a partir de um ponto de vista feminino e negro. No relato de uma narradora octogenária, ex-escrava de nação jeje, o fôlego monumental do romance perfaz aprofundada vivência de culturas originárias, incorporando léxicos de etnias traficadas e ritualísticas totêmicas, em tentativa de representação da importância de tal legado para a integração negra no Brasil. Sustentamos que a originalidade daí desprendida é capaz de contraditar um dos marcos da sociologia crítica brasileira: a tese A integração do negro na sociedade de classes, de Florestan Fernandes. Essa complementação fundamental a historiografias consagradas sobre as populações afro-brasileiras depende das possibilidades do registro ficcional, as quais, no entanto, ficam obstadas por escolhas formais conservadoras, que limitam, sem anular, a potência literária da obra.

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Biografia do Autor

Gabriel Estides Delgado, Universidade de Brasília

Doutor em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB). Departamento de Teoria Literária e Literaturas. Programa de Pós-Graduação em Literatura.

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Publicado

2018-12-28

Como Citar

Delgado, G. E. (2018). Representando a resistência negra no Brasil: originalidade e limites de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 28(4), 65–85. https://doi.org/10.17851/2317-2096.28.4.65-85

Edição

Seção

Dossiê – A Cultura Negra na Literatura e nas Artes