Exílio e interrupção
as diferentes condições da retomada dos arquivos nos cinemas de Patrício Guzmán e Eduardo Coutinho
DOI:
https://doi.org/10.35699/2317-2096.2020.25611Palavras-chave:
Patrício Guzmán, Eduardo Coutinho, A batalha do Chile, Cabra marcado para morrer, cinema latino-americano, exílioResumo
Tomando como pressuposta a ideia de que a montagem dos arquivos, em uma reelaboração da militância, poderia contribuir para um processo de entendimento da história, propomos, neste artigo, comparar dois filmes do contexto das ditaduras latino-americanas, a saber: a trilogia A batalha do Chile (GUZMÁN, 1975, 1976, 1979) e Cabra marcado para morrer (COUTINHO, 1984). A partir de uma comparação, buscamos perceber como se articulam a tomada e a retomada. Procuramos compreender como os aspectos formais dos filmes dão a ver a maneira como são atravessados por seus contextos, pelas condições às quais estão submetidos. Propomos, como hipótese, a ideia de que, enquanto os filmes de Guzmán, montados a partir de uma história ainda recente, são atravessados pela distância geográfica do exílio, o filme de Coutinho é atravessado pela interrupção temporal de quase 20 anos entre o filme que seria feito em 1964 e aquele que se realizou em 1984.
Referências
A BATALHA do Chile I: A insurreição burguesa. Direção: Patrício Guzmán. Cuba/França, 1975. P&b, 94min.
A BATALHA do Chile II: O golpe de estado. Direção: Patrício Guzmán. Cuba/França, 1976. P&b, 89min.
A BATALHA do Chile III: O poder popular. Direção: Patrício Guzmán. Cuba/França, 1979. P&b, 79min.
AB’SÁBER, Tales A. M. Cabra marcado para morrer, cinema e democracia. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013. p. 504-523.
AGUIAR, Carolina Amaral de. O Chile na obra de Chris Marker: um olhar para a Unidade Popular desde a França. 2013. Tese. (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
AVELLAR, José Carlos. A ponte clandestina: Birri, Glauber, Solanas, Getino, García Espinosa, Sanjinés, Alea – Teorias de cinema na América Latina. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora 34/Edusp, 1995.
BARTHES, Roland. A câmara clara. Lisboa: Edições 70, 1981.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BERNARDET, Jean-Claude. Vitória sobre a lata de lixo da história. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013., p. 465-478
BRENEZ, Nicole. História das formas, 1960 – 2000. Recine, Revista do Festival Internacional de Cinema de Arquivo. Rio de Janeiro, Ano 3, nº 3, p. 36-57, dez 2006.
BRENEZ, Nicole. René Vautier: devoirs, droits et passion des images. La Furia Umana, n. 14, 2012. Disponível em: http://www.lafuriaumana.it/index.php/archives/41-lfu-14/121-nicole-brenez-rene-vautier-devoirs-droits-et-passion-des-images. Acesso em: 13 ago. 2015.
CABRA marcado para morrer. Direção: de Eduardo Coutinho. Brasil, 1984. Cor/p&b, 120min.
CHASKEL, Pedro. Entre el passado y el presente. Enfoque. Santiago: Ediciones del Instituto Chileno Canadiense de Cultura. n. 11, abril de 1989. p. 16-19.
CHILE, memória obstinada. Direção: de Patrício Guzmán. Chile, 1997. Cor/p&b, 57min.
CHRISTOFOLETTI, Patrícia. América em transe: cinema e revolução na América Latina (1965-1972). Tese. 2011. (Doutorado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011.
CINECHILE. Manifesto de los Cineastas de la Unidad Popular. Revista Punto Final, n. 120, 22 de dezembro de 1970. Disponível em: http://www.cinechile.cl/archivo-66. Acesso em: 16 maio 2018.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Images in spite of all. Four photographs from Auschwitz. Chicago: University of Chicago Press, 2008.
EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
GUZMÁN, Patrício. Lo que debo a Chris Marker. Texto escrito em 2 de agosto de 2012. Disponível em: http://lafuga.cl/lo-que-debo-a-chris-marker/556. Acesso em: 26 set. 2020.
LEANDRO, Anita. O tremor das imagens: notas sobre o cinema militante. Devires, Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p. 98-117, jul-dez 2010.
LINDEPERG, Sylvie. Imagens de arquivos: imbricamento de olhares. Entrevista concedida a Jean-Louis Comolli. In: Catálogo Forum.doc. Belo Horizonte: Filmes de quintal, 2010. p. 318-345.
MACHADO, Patrícia. Imagens que restam: a tomada, a busca dos arquivos, o documentário e a elaboração das memórias da ditadura militar brasileira. 2016. Tese. (Doutorado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.
MESQUITA, Cláudia. Entre agora e outrora: a escrita da história no cinema de Eduardo Coutinho. In: Revista Galáxia, n. 31, São Paulo, abril de 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-25542016124255.
MESQUITA, Cláudia. Obra em processo ou processo como obra? Transcrição da fala que integrou o ciclo Cinema Brasileiro Anos 2000: 10 questões, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil, no dia 5 de maio de 2011, no Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/anos2000/questao9.php. Acesso em: 27 de abril de 2017.
MOUESCA, Jacqueline. Los anos del exilio. In: ______. Plano secuencia de la memoria de Chile: veinticinco años de cine chileno. Madri: Eds. del Litoral, 1988. p. 137-158.
MUNIZ, Sérgio. Censura, autocensura, autopreservação – 1964-1985. 19o FESTCURTASBH: Festival de Curtas de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Fundação Clóvis Salgado, 2017.
NAVARRO, Vinícius; RODRÍGUEZ, Juan Carlos. New documentaries in Latin America. Nova Iorque: Palgrave Macmillan: Nova Iorque, 2014. DOI: https://doi.org/10.1057/9781137291349.
PICK, Zuzana M. La imagen cinematográfica y la representación de la realidad. Reflexión histórica y crítica sobre el cine documental en Chile. In: Literatura chilena: creación y crítica. Los Angeles: Ediciones de la Frontera, Ano 8, n. 27, jan-mar de 1984. p. 34-40
SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio. In: ______. Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 46-60
SCHWARZ, Roberto. O fio da meada. In: OHATA, Milton (org.). Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 459-464.
XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Julia Fagioli (Autor)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja The Effect of Open Access).