Uma poética do inacabamento

a escrita literária de Maria Tereza

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2317-2096.2020.21939

Palavras-chave:

memória, testemunho, pensamento decolonial, Negrices em flor, Maria Tereza

Resumo

O artigo analisa a obra Negrices em flor, da poeta, compositora e atriz negra Maria Tereza, explorando como a escrita poética da autora expõe a invisibilidade, o silenciamento e a subalternização de sujeitos produzidos no encontro e na violência colonial. Atenta à dupla subalternização da mulher negra, a escrita assume um discurso que se volta não apenas para o corpo negro, mas, mais especificamente, para o corpo feminino negro. Desse lugar de fala a escrita se constrói como testemunho de uma memória negra, enquanto ressignificar a diáspora como ato gerador de um “corposolo” também negro. Esse corposolo negro, contrariando a colonialidade do poder, afirma-se como um “pensamento crítico de fronteira” por meio do qual a voz lírica redefine as ideias de cidadania, democracia, direitos humanos e humanidade, conforme impostas pela modernidade europeia, para permitir ao sujeito negro, especialmente o feminino, ancorar sua existência em outras cosmologias e outras epistemologias.

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Biografia do Autor

Terezinha Taborda Moreira, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MInas), Belo Horizonte, Minas Gerais

É Professora Adjunta III da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas (1998). Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000) e Pós-doutora em Literatura Angolana na Universidade Federal Fluminense. É pesquisadora nível 2 do CNPq. É Editora da Área de Literatura da Revista Scripta e dos Cadernos Cespuc de Pesquisa, do Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros da PUC Minas. Coordena o Grupo de Pesquisa África e Brasil: repertórios literários e culturais, que intenta pensar os repertórios literários e culturais relacionados ao Brasil e ao continente africano indagando sobre as proposições e visões de África e Brasil que podem ser percebidas nos textos literários e artísticos em geral; as formas que as produções artísticas e críticas elegem para inserir África e Brasil no cenário cultural contemporâneo e os diálogos que a literatura e as outras artes têm promovido com os horizontes políticos e sociais. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Literatura Comparada. Suas principais linhas de pesquisa são: identidade e alteridade na literatura; formas de representação do outro e estudos pós-coloniais. É autora e/ou organizadora de várias publicações científicas, além de capítulos de livros, artigos em periódicos, etc. Dentre sua produção científica, ressalta a obra "O vão da voz: a metamorfose do narrador na ficção moçambicana" (2005).

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Publicado

2020-05-15

Como Citar

Taborda Moreira, T. (2020). Uma poética do inacabamento: a escrita literária de Maria Tereza. Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 30(2), 39–58. https://doi.org/10.35699/2317-2096.2020.21939

Edição

Seção

Dossiê – Memória e testemunho em tempos sombrios