Literatura e pintura abstrata: Água viva de Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.17851/2317-2096.27.2.261-276Palavras-chave:
Clarice Lispector, literatura, pintura abstrata, Água vivaResumo
O ensaio discute as relações intermidiáticas entre a arte e Água viva, de Clarice Lispector, concluindo pela análise do romance como uma versão literária da pintura abstrata. Descartando referências à realidade ficcional, Água viva elimina quase totalmente narrador, enredo e personagens. Entretanto, preserva resquícios desses elementos do romance tradicional, sinalizando a opção pela abstração a partir da figuração, com remanescentes de formas reconhecíveis de objetos e seres vivos ou imaginários, como em certos quadros de Wassily Kandinsky e de Manabu Mabe. Entretanto, tal como a pintura abstrata, o romance não prescinde de uma organização formal, constituída pelo emprego de imagens recorrentes, sobretudo associadas a elementos aquáticos e a construções sinestésicas. No conjunto, essas estratégias convergem para a retomada da temática existencial constante na obra de Clarice: a busca do it, do neutro, da coisa em si, embuçada sob o véu das aparências.
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