Literatura e pintura abstrata: Água viva de Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.17851/2317-2096.27.2.261-276Palavras-chave:
Clarice Lispector, literatura, pintura abstrata, Água vivaResumo
O ensaio discute as relações intermidiáticas entre a arte e Água viva, de Clarice Lispector, concluindo pela análise do romance como uma versão literária da pintura abstrata. Descartando referências à realidade ficcional, Água viva elimina quase totalmente narrador, enredo e personagens. Entretanto, preserva resquícios desses elementos do romance tradicional, sinalizando a opção pela abstração a partir da figuração, com remanescentes de formas reconhecíveis de objetos e seres vivos ou imaginários, como em certos quadros de Wassily Kandinsky e de Manabu Mabe. Entretanto, tal como a pintura abstrata, o romance não prescinde de uma organização formal, constituída pelo emprego de imagens recorrentes, sobretudo associadas a elementos aquáticos e a construções sinestésicas. No conjunto, essas estratégias convergem para a retomada da temática existencial constante na obra de Clarice: a busca do it, do neutro, da coisa em si, embuçada sob o véu das aparências.
Downloads
Referências
ANDRADE, Maria das Graças Fonseca. Da escrita de si à escrita fora de si: uma leitura de Objeto gritante e Água viva de Clarice Lispector. 2007. 225 f. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
BAUDELAIRE, Charles. Correspondances. In: BAUDELAIRE, Charles. Les Fleurs du mal. Paris: Poulet-Malassis et De Broise, 1861. p. 15.
BELLAMY, Suzanne. The Visual Arts in To the Lighthouse. In: PEASE, Allison (Ed.). The Cambridge Companion to To the Lighthouse. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. p. 136-145.
BRIDEN, Mary. Hélène Cixous and Maria Chvevska. In: KNIGHT, Diana; STILL,Judith (Ed.). Women and Representation: Women Teaching French (Occasional Paper). Nottingham: WIF Publications, 1995. p. 106-114.
GOODING, Mel. Arte abstrata. Tradução de Otacílio Nunes e Valter Pontes. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
IANNACE, Ricardo. Retratos em Clarice Lispector: literatura, pintura e fotografia. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
JALES, Suzane. O figurativo abstrato de Naza. Rio de Janeiro: Tiriunvirtatum, 1999.
JONES, Caroline A. Synaesthea. In: JONES, Caroline A (Ed.). Sensorium: Embodied Experience, Technology, and Contemporary Art. Cambridge: MIT, 2006. p. 216-219.
KANDINSKY, Wassily. Blue Mountain. 1908-1909. Óleo sobre tela, 106 x 96.6 cm. Guggenheim Musem. Collection Online. Disponível em: . Acesso em: 13 maio 2017.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, [197–].
LISPECTOR, Clarice. Abstrato e figurativo. In: LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 31.
LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
LISPECTOR, Clarice. Correspondências. Organizado por Teresa Montero. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
LISPECTOR, Clarice. Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
MIRANDA, Ana Augusta Wanderley Rodrigues de. O indizível: uma leitura em interface com a psicanálise em Clarice Lispector. Vitória: EDUFES, 2012.
OBOUSSIER, Claire. Synaesthesia in Cixous and Barthes. In: KNIGHT, Diana; STILL, Judith (Ed.). Women and Representation: Women Teaching French (Occasional Paper). Nottingham: WIF Publications, 1995. p. 115-131.
PATER, Walter. The Renaissance: Studies in Art and Poetry. London, New York: Macmillan, 1888.
POE, Edgar Allan. Al Aaraaf. In: INGRAM, John H. (Ed.). The Works of Edgar Allan Poe. Edinburgh: Adam and Charles Black, 1875. v. 3: Poems and Essays, p. 36.
PROSE, Francine. The Mrs. Dalloway Reader. San Diego: Harcourt, 2003.
READ, Herbert. O sentido da arte. Tradução de E. Jacy Monteiro. 4. ed. São Paulo: IBRASA, 2005.
READ, Herbert. The Meaning of Art. New York; Washington: Praeger, 1968.
SCHAPIRO, Meyer. The nature of abstract art. In: GAIGER, Jason; WOOD, Paul (Ed.). Art of the Twentieth Century Reader. New Haven: Yale University Press, 2003. p. 22-31.
SEUPHOR, Michel. L’art abstrait. Paris: Maeght, 1974.
VAN CAMPEN, Crétien. The Hidden Sense: Synesthesia in Art and Science. Cambridge: MIT, 2010.
Downloads
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2017 Solange Ribeiro de Oliveira (Autor)
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja The Effect of Open Access).