Justiça e Virtude em Confúcio:

a Lei como sintoma de doença moral a partir da Filosofia Chinesa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.69881/c9ajcp03

Palavras-chave:

Filosofia oriental, Confucionismo, Justiça, Ética

Resumo

Montesquieu afirmou: “Quando um povo tem bons costumes, as leis se tornam simples” (Ryckmans, 2005, p. XXVIII). Essa ideia, que poderia ter sido retirada dos Analectos, revela o cerne da crítica confucionista ao legalismo. Se o direito moderno vê a lei como instrumento de ordem, Confúcio a vê como sintoma de doença moral, um instrumento dispensável em uma sociedade guiada por autodisciplina ética. A ética confucionista substitui a obediência externa à lei pela excelência do homem virtuoso. Para Confúcio, a verdadeira ordem não nasce de códigos, mas da virtude e da benevolência, internalizadas como ritos e alinhadas ao Dào. A filosofia de Confúcio desafia a visão jurídica ocidental ao deslocar o foco para uma ética onde a coesão social vem da educação moral e do florescer humano, não da imposição legal. Este artigo busca reconstruir a crítica confucionista ao legalismo, na medida de sua ressonância contemporânea, demonstrando um modelo de lei alternativo à tradição ocidental moderna. Partindo da máxima de simplicidade das leis em sociedades moralmente íntegras, exploramos a tese de que, para o confucionismo, a normatividade jurídica é um sintoma de falha ética. Valemo-nos sobretudo de uma abordagem hermenêutica interna do pensamento confucionista, a partir da análise dos Analectos, para entender como a justiça é, com tanta originalidade, performada nos aforismos de Confúcio. Com isso, abrem-se caminhos para uma justiça de retidão, em que a harmonia social genuína emergiria da educação moral, do rito e do cultivo da virtude, tomando lugar da coerção legal como eixo ordenador.

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Biografia do Autor

  • Arthur Melillo Ramos, Universidade Federal de Minas Gerais

    Graduando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisador de Iniciação Científica do Grupo Internacional de Pesquisa "Direitos Humanos: Raízes e Asas" e extensionista do Grupo de Estudos em História da Ásia (GEHA) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Técnico em Administração pelo Instituto Federal de Minas Gerais. (IFMG) Servidor público concursado da Secretaria de Estado de Educação (SEE-MG).

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Publicado

08.09.2025

Como Citar

Justiça e Virtude em Confúcio:: a Lei como sintoma de doença moral a partir da Filosofia Chinesa. (2025). Revista Do CAAP, 30(2), 1-25. https://doi.org/10.69881/c9ajcp03